Daniel Campos

Prosas

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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 311 de 320.

Pirâmide de sal ou de açúcar

Uma pirâmide cresce no meio de um deserto feito de muitas árvores, rios e flores. Não importa se as árvores são magérrimas, se os rios estão submersos e se as flores estão descoradas pelo sol que arde unânime no céu. O que importa é que esse reino existe em torno daquela pirâmide que não é de pedra, mas de sal ou de açúcar.

A distância existente entre a mulher e a pirâmide não a permite sentir o gosto e, por ordem superior, não há vento nem doce nem salgado a ventar por ai. A pirâmide está ao lado do horizonte mais profundo daquela mulher que corre em vão para encontrá-la. Quanto mais corre, mas longe a pirâmide se coloca. Comporta-se como a peça de um tabuleiro de xadrez que acuada pelo desvario do oponente, foge. Ou melhor, joga. ...
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Poesia plena

Lá estava ela. Tão perto, ao alcance de minhas mãos. Engraçado... Eu que sempre a tive em rimas estava pela primeira vez diante de seus olhos. Eu que sempre a tive no papel acariciava pela primeira vez sua pele. Eu que sempre pedi que viesse, passei a pedir para não ir embora. Em quantos poemas eu desenhei sua boca em palavras sem nunca tê-la tocado. Em quantos poemas eu dancei em seus passos sem saber que passava descalça. Em quantos poemas eu falei da sua saudade sem que ela tivesse surgido na minha vida de forma tão nítida. Eu sempre achei que a encontraria. Sempre tive essa certeza dentro de mim. Por mais esquisito que isso possa parecer, essa certeza sempre caminhou comigo. Eu me assumi poeta quando tinha 17 anos. Desde então, foram anos a fio de uma espera louca até que ela me chegasse por completo. Nesses anos todos, sempre a tive em pedaços. Seja no papel ou em outras mulheres. Eu passei esses anos todos procurando seus olhos em outros olhos. Eu passei esses anos todos tentando um poema perfeito. E esse poema só foi me acontecer quando, pela primeira vez nesse tempo todo, vi-me frente a frente com ela - a mulher amada. Eu que escrevi tantos poemas ao longo desses anos todos, diante daquele encontro a única impressão era a de que nada fora escrito. Tudo era novo. Tudo era inédito. Tudo era começo. Por quanto tempo eu sonhei com o momento de encontrá-la. Por quanto tempo eu sonhei os olhares, o jeito, o perfume dessa mulher que me habita há muitos anos (presumo que ela nasceu comigo). Por quanto tempo eu sonhei os sonhos dessa mulher. Por quanto tempo eu sonhei a essência, em toda inocência e em toda indecência, dessa mulher. Por quanto tempo eu sonhei com um beijo dessa mulher. Por quanto tempo eu sonhei aquele beijo. Quantas páginas de papel eu deixei pelo caminho na tentativa de construir aquele beijo em estrofes. Poesias que falavam da temperatura, da textura, da pulsação, das cores, dos sabores, dos perfumes, dos movimentos, da umidade, das vontades, da velocidade, dos teores, dos efeitos e de tantos outros detalhes daquele beijo. E pensar que nenhum escrito meu jamais alcançou a intensidade daquele beijo. Os sete céus e todos os infernos de Dante se calaram naquele beijo. O mundo se revirou pelo avesso naquele beijo. Os anjos tiveram sexo naquele beijo. Uma bailarina deixou sua caixinha de música e rodopiou pelas ruas durante aquele beijo. Enquanto se dava aquele beijo, alguém deve ter tido a certeza de que em algum lugar o amor existe. E de fato, existe. Em todos esses anos, quando eu pedia inspiração eu chamava essa mulher que sempre me esteve próxima. Em todos esses anos, quando eu escrevia "mulher amada" em um pedaço de papel eu falava dessa mulher que há sempre me esteve próxima. Em todos esses anos, tentei descobrir o nome dessa mulher. E hoje, sei que ela se chama poesia. Em todos esses anos, suportei a solidão porque eu sabia que um dia a minha poesia se faria completa na beleza dessa mulher. Como eu sonhei com aquele encontro. E o beijo foi o ápice, a prova, o milagre. De uma vez por todas, a boca da poesia em minha boca, consagrou-me poeta. Sonhei. Sonhamos.


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Poeta da areia

O dia surge numa ausência sempre notada. Os caminhos se esparramam como desertos e toda aquela areia se remoí dentro de uma apertada ampulheta. Vejo caminhos nas alucinações que eu mesmo crio só para que eu possa continuar a caminhar. Seria tão bom se voltasse, mas devo seguir com uma mínima dose de lucidez. Mesmo que seja a mínima da mínima dose possível.

Às vezes, tenho e me detenho à nítida impressão que o tempo me prega algumas peças. Estou distante, longe, numa perspectiva praticamente impossível. Ao mesmo momento, parece que foi ontem. E mesmo passando os dias, parece que foi ontem. Ontem que nos deixamos, não porque queria, mas porque chega um momento que é preciso desdar as mãos. Um momento em que só permanece o que é realmente forte. E no momento decisivo, você não foi forte. Tempos depois, continuamos vivos. Mesmo com todo o deserto, não acabou....
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Pombal

São dezenas. São centenas. São milhares de pombos. Pombos do ar, da cidade, das migalhas. Pombos que infestam as praças. Pombos que se assentam nos fios da eletricidade. Pombos brancos, pombos pretos, pombos acinzentados, pombos esverdeados, pombos machados, pombos mesclados, pombos riscados, pombos sujos e imundos, pombos contagiosos e epidêmicos. Pombos que comem grãos, frutas, sementes e lixo. Pombos de coco verde e mal cheiroso que tingem o asfalto, as camisas dos executivos que passam e os cabelos das moças que namoram no meio da rua....
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Ponte

A noite manchara os lábios de uísque e os delírios corriam à solta. Diante dos olhos, o horizonte de uma ponte na seminudez de três arcos de concreto. De uma ponta a outra da cidade, a ponte se lançava sobre um lago que era mais escuro do que a própria morte. Um lago de águas calmas, aquietadas como se uma lembrança na escuridão do esquecimento. Os pés tocam a ponte sem maiores pretensões. De repente, como se o vento encontrasse a brisa no meio da ponte, ela se encontra com um espelho. Ela vem com os saltos salpicando a ponte. Fuma uma fumaça fina e joga as cinzas do cigarro no lago. E nem se preocupa se queima as cristas daquelas águas negras. ...
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Por detrás da fantasia

Fim de tarde. A folha de papel em branco parece não querer me dizer nada além de coisas já ditas. As nuvens, ao contrário das cores tradicionais que reza o fim do ano, vestem-se de negro. A caneta tem dificuldade em desenhar as letras. Tantas lembranças se misturam as expectativas, que também são tantas. O texto nasce devagar, regado à chuva e bossa nova, na sede de buscar o ser humano que existe em cada um de nós e que anda meio esquecido.

Dizem que há uma certa magia no ar. Os quatro ventos nos alimentam com mensagens bonitas. Os olhos se enchem de panetones, presentes, leitoas, corais, perus, luzes, cumprimentos, cartões, sinos, vitrines, pinheiros, neve, orações, estrelas, enfim, é natal. ...
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Por mais que doa, a primavera vem aí

A primavera vem aí! Por mais que doa, ela virá. Por mais que doa, nascerão as flores. Por mais que doa, os tons serão coloridos. Por mais que doa, ela não se vestirá de flores negras. Por mais que doa, a primavera e seus amores. Por mais que doa, as flores estarão nos jardins, nas praças, nas mãos de tantas namoradas. Por mais que doa, entre cores, perfumes e texturas existirá um sabor de saudade. Por mais que doa, a esperança, tímida e assustada, estará escondida em algum lugar desse tempo chamado primavera. ...
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Comentários (2)

Por onde anda a esperança?

Eleições. Política no café da manhã, no almoço, no jantar e em todos os intervalos imagináveis. Televisão, rádio, internet, jornais, revistas e um assunto em comum: eleições. Debates, horário eleitoral, entrevistas, pesquisas, agendas e dá-lhe candidatos. Candidato foi não sei onde, almoçou com não sei quem, vestiu uma gravata tal... Nós também somos candidatos. Candidatos a sobreviventes nessa tempestade de propaganda. Eu gosto de política, mas nem sempre existe política nesses momentos eleitorais. ...
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Por onde anda a liberdade?

O céu escuro ganha riscos. Riscos finos e coloridos. E não são riscos de cometas apressados ou, de fenômenos sobrenaturais ou de fogos de artifício perdidos no tempo. O céu escuro, coberto por efeitos especiais (aqueles que se costuma encontrar nos cinemas), vê-se cortado por mísseis. Mísseis que, infelizmente, deixam o mundo da ficção.

Enquanto o céu escuro é violentado, soldados marcham sem se perguntarem pela razão daquela marcha. Soldados marcham e crianças perguntam por seus pais. Soldados marcham e crianças deixam de ser crianças. Soldados marcham e crianças se encolhem num canto, não menos escuro, diante do medo das explosões que se fazem lá fora. ...
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Pormaiores

Por onde anda aquela lua que nos olhava cansada? Por onde anda o silêncio que varria nossas bocas? Independentemente da primavera, por onde andam as flores? Por onde andam os tantos sonhos? Será que andam esquecidos? Será que andam guardados? Será que andam abandonados? Seja lá como andam, andam calados. Por onde andam os sorrisos? A boca traz um gosto amargo, um gosto de saudade. Por onde andam as conversas? Por onde andam nossos destinos? Eu não sei dos amanhãs, mas as lembranças caminham pelos caminhos do meu corpo. Por onde andam os primeiros pássaros? Por onde andam aquelas expectativas? Por onde andam as ruas escuras? Por onde anda o até amanhã? Por onde anda aquele sol que era motivo de reclamações? Por onde andam os pormaiores neste universo de pormenores?


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