Daniel Campos

Prosas

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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 309 de 320.

Nuvens de Sangue

O dia olhado da janela entreaberta é, no mínimo, estranho. Nuvens negras surgem dos cantos do céu mais gordas dos que de costume. O sol febril faz um grande esforço para se desviar delas, se bem que há cada vez menos sol. Talvez chova. Não vi a previsão do tempo, não sei em que fase da lua estamos, nem sei a direção do sopro do vento, por isso só acho. Nada mais do que suposições.

Fico então olhando o céu com meus achismos, também não me resta nada a fazer nestes últimos minutos que antecedem o almoço. Já sinto o aroma que escapa das panelas no fogão. Podia fazer tantas coisas, mas prefiro ficar olhando as nuvens rechonchudas. ...
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O abismo da vergonha

O abismo é cada vez maior. De um lado os que ficam na piscina com taças de champanhe e de outro, os que catam comida no lixo. De um lado os que nem sabem onde acabam suas fazendas e de outro, os que não tem sequer uma cova rasa. De um lado os que têm direito às leis (às brechas da lei) e de outro, os que não mais acreditam em justiça.

Quando os olhos chegam perto do abismo, o medo faz com que se volte para trás. Ficar pasmado não leva para lugar algum. O abismo que parece infinito não é recente. Às vezes, pode ter outro nome. Pode ser um muro (Berlim), uma fronteira (EUA x México), um embarco, acima de tudo econômico, (Cuba, Iraque), uma indústria da seca (Brasil)......
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O ato de acreditar

Brasil: três milhões de crianças que, hoje, trocam as aulas pelo trabalho. Brasil: 50 mil crianças trabalhando no lixo. Revirando, revolvendo, remoendo o lixo. Brasil, quantas as suas crianças que não sabem o que é ser criança?

Crianças violentadas. Crianças abandonadas. Crianças desenraizadas. Crianças prostituídas. Crianças sem fantasias. Crianças vitimadas. Crianças fora de contexto. Crianças de uma vida favelada. Crianças no exílio das letras. Crianças entregues à maldição de ver a infância e não poder sentir o seu sabor. E o que será do adulto gerado a partir dessa falta de criança? Será esse o retrato de cidadão que o Brasil quer ter?...
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O desejo entre o byte e a carne

O corpo ainda quente tomba na cama. O sexo tatuado nos lençóis é a prova mais insignificante do que acontecera ali. Ela ainda tem calma o suficiente para tomar um banho com um sabonete esfoliante. Talvez porque quisesse tirar de sua pele qualquer vestígio de outra pele. Talvez porque quisesse ficar bonita para a próxima vítima. Talvez porque quisesse demorar um pouco mais debaixo do chuveiro. Talvez porque não tivesse acontecido nada para se preocupar. Afinal, não é o primeiro e nem seria o último. ...
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O dono do mundo

O dono do mundo não é um livro. O dono do mundo não é uma novela. O dono do mundo não é um apelido. E "mundo" não é o nome de um cachorro. O dono do mundo fala inglês e usa chapéu de vaqueiro.

O dono do mundo faz o que bem quer. Invade, bombardeia, arrasa e inventa desculpas. O dono do mundo comete os sete pecados e quantos mais houver. O dono do mundo quer o último spot de luz de uma noite escura. Não há papa, rei, bacharel que o derrube.

O dono do mundo não pede conselhos ou dá satisfações. Para o dono do mundo, nada importa além de seu umbigo. Nem civilizações nem culturas nem sentimentos, o que importa é conquistar fincando sua bandeira em cada milímetro quadrado de mundo....
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O Gosto de uma época

Um vento forte e sem direção. Acordo numa espécie de transe. A vista confusa. O corpo meio zonzo. Caminho. Os meus passos seguem outros passos. Não sei se são passos desgarrados, se são passos guardados, eu só sei que são passos passados. Não me pergunte qual é ou era o mundo. Só sei que, está ali diante dos meus olhos. Os rastos ora mais fortes, ora mais fracos rabiscam a estrada. E lá vão os passos, e lá vai um tempo, e lá vou eu.

Por hora, caminho ao som de uma música. Não sei de onde vem, mas conforme caminho, ela, a música, fica mais próxima. É a minha única guia. Não vejo o cantor, mas deve estar usando colares, paletó de veludo e calça-boca-de-sino. A vida, como uma amante, remexe os seus calendários como quem remexe os guardados das gavetas. ...
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O mar e os barquinhos de papel

Hoje, o olhar da mulher do mar se debruça de um jeito diferente. Dias como hoje, são dias com o mesmo sol, com a mesma lua, com o mesmo movimento de rotação da terra. Mas nos olhos da mulher do mar o dia acontece diferente. Talvez o sol tenha um pouco mais de brilho, embora seja inverno. Talvez a lua esteja uma pouco mais sozinha, embora continue com as mesmas companhias. Talvez a terra gire um pouco mais devagar, quadro a quadro, embora não tenha ares de cinema. Talvez. Entretanto, nos olhos da mulher do mar há algo de diferente. Não que seus olhos sejam comuns nos outros dias, porém, hoje, em especial, ganham um quê a mais....
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O óbvio dos corações

"Bate outra vez, com esperanças o meu coração", este verso de Cartola vai além do óbvio. Nelson Rodrigues dizia que a graça da vida está no óbvio, mas não existe nada mais óbvio do que irmos além dele próprio. Perdão pela redundância. A vida parece não nos seduzir se for de uma obviedade descarada, se for certa demais, calculada ao extremo, consumada de acordo com nossos prognósticos... Por isso, o encanto está em descobrir as obviedades da vida. Parece simples, mas para realizarmos esse feito temos que ir para os confins dela, olhá-la de fora como um estranho e só então voltarmos a ela....
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O racismo precisa de uma resposta

Antes de velejar texto adentro, queria pedir benção para aquela que é uma das melhores personificações de justiça, para aquela que é guerreira dentro e fora dos tribunais, para aquela que acredita sonha batalha por uma causa maior: o humano. Falo da doutora Luislinda Dias Valois Santos, que motivou a construção destas linhas. A benção, Luislinda de Todos os Santos e muito axé a todos os negros e negras, de pele ou de coração, como este poeta aqui, que sonham por um Brasil mais justo, mais igual e, sobretudo, mais poético. Pena que esse país não seja a mesma aspiração dos donos da ordem e do progresso....
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O silêncio que não se ouve

Grita ao longe uma voz muda pedindo silêncio. Quem corria pelas ruas, em carros, trens, ônibus, ou com os próprios pés, antes mesmo de o dia abrir suas portas, ou melhor, de amanhecer, voltam seus olhos aos relógios e se calam por um minuto. Alguns mais, outros menos, mas uma fração de segundo emudece nos corpos com vida.

Milhões e milhões se envolvem num luto imaginário. Os que amanhecem, os que cultivam o sono e os que ainda não dormiram. A todos é imposta à dor da perda. Ao contrário dos romances, o céu de São Paulo não se veste de preto, tampouco derrama um choro esquivo. O sol nasce como na maioria dos dias e não surge fosco, esboça-se simplesmente sol. Mesmo com a rotina dos astros celestes sendo cumprida, a cidade insiste em parar....
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