Daniel Campos

Prosas

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18/03/2010 - Sem maestro, a orquestra se cala

Hoje o galo de peito vermelho não encontrou motivo algum para cantar. Ao contrário de subir na cerca e cocoricar forte sua melodia caipira, abaixou a cabeça e silenciou. Seguindo seu exemplo, as galinhas carijós não vão botar ovo algum ao longo do dia. Brenda, aquela cachorra preta que o seguia pelo sítio afora, sequer se levantou. Os canários da terra e do reino, descendentes daqueles que ele capturava em arapucas de menino, não estralaram ao amanhecer do dia.

A barulhenta máquina de fazer fubá também ficou quieta em seu canto. Nem mesmo os tratores quiseram papo, ficaram mudos e com faróis baixos. Ao contrário de apitar, o trem que corta o sítio ao meio há mais de quarenta anos, soluçou. Os mais de mil pés de abacate se curvaram em sinal de reverência. A terra sangrou de dor ficando ainda mais vermelha. As águas correntes que alimentam o lago pararam de correr. As tilápias, tão cobiçadas por ele, não saíram de suas tocas....
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27/08/2011 - Sem mais

Sem mais a dizer. Essa é a frase, escrita no pé da página ou dita no decorrer da fala, que acaba com uma série de expectativas. Sempre há algo a ser dito. Não importa se bom ou ruim, se é o que se pretende realmente ouvir, se verdade ou mentira, mas há sempre algo por detrás da última palavra. Muitas vezes há mais coisas não ditas do que propriamente ditas. Há um universo de coisas e criaturas proibidas por detrás de um sem mais...

Sem mais a dizer. Sem mais a fazer. Sem mais a sofrer. Sem mais a nascer. Sem mais a querer. Sem mais a florescer. Sem mais a esquecer. Sem mais a convencer. Sem mais a colher. Sem mais a tecer. Sem mais a enlouquecer. Sem mais a beber. Sem mais a escrever. Sem mais a oferecer. Sem mais a poder. Sem mais a prometer. Sem mais a falecer. Sem mais a envolver. Sem mais a aprender. Sem mais a amanhecer. ...
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01/07/2010 - Sem mais rodeios

O peão, com chapéu moldado a cabeça, debruça seu olhar estremecido sobre a arena vazia. A terra remexida ainda geme castigada pelas pisadas dos bois. As musas do rodeio já se foram. As luzes dos refletores baixaram. E o narrador deixou o silêncio pairando no ar. Nossa Senhora apareceu para recolher o que sobrou das preces elevadas a ela. Longe dali, alguns comemoram ou lamentam o resultado num copo de cerveja. Há quem dance, festeje, abrace, beije, mas aquele peão não consegue fazer nada disso tendo os olhos presos à arena. É como se sua história de títulos fosse sepultada naquele chão junto à coragem e à vontade de continuar. ...
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22/08/2016 - Sem medo de nada

Se apaixonado, não tenho medo de nada. Enfrento tudo e todos olhos nos olhos. Viro bicho se precisar para defender a criatura amada. Sinto-me tão forte, mas tão forte que nada me abala. Protejo quem amo com unhas e dentes. Estou sempre pronto para batalhar por quem quero e pelo que eu quero para nós dois. Faço festa e guerra pelo amor que tenho. Nada me amedronta, nada me faz desistir, nada me afasta do meu coração, que é minha espada e meu escudo.


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05/11/2012 - Sem música, não há pássaro

Há cada vez menos música e cada vez mais barulho no ar. Para onde foram as melodias de Tom Jobim, os acordes de João Gilberto, a voz de Clara Nunes? Que gerações são essas que não conhecem Pixinguinha, Noel Rosa e Cartola? Algum adolescente sabe me informar por onde andam Francis Hime, Aldir Blanc, Newton Mendonça... Alguém me dá notícia do choro bandido de Edu Lobo, do mineiríssimo Clube da Esquina, do piston de Araken Peixoto. Quero mais, mais Maria Bethânias, mais Marienes de Castro, mais Alciones... ...
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07/01/2010 - Sem papo

Eu não quero falar, ver, tampouco saber de você. Que você suma do mapa geográfico, político, astral. Que você desapareça sem deixar endereço, telefone e sequer ponto final. Que você enlouqueça, desapareça, vire às avessas que eu não ligo. Aliás, maldigo você do primeiro ao último instante. Que duvide, que revide, que olvide, mas se mantenha distante. Não me importo com o que faça, com o que seja, onde esteja. Vá com os diabos porque Deus está de férias. Ao menos, de férias para você.

Não me aborde mais. Não me escreva mais. Não me pense mais. Não insista mais em mim. Já estou para lá das fronteiras da delicadeza. Daqui por diante meu comportamento pode não ter a mesma nobreza. Invente outro caminho desde que ele não cruze com o meu. Faça qualquer coisa desde que não interfira em meus dias. Tome chá de sumiço, vire-se em seu reboliço, tome rumo num feitiço... mas sai daqui, daqui de perto, de perto de mim. Entenda de uma vez: é o fim. ...
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28/12/2009 - Sem perguntas

Entre você e eu há um mundo inteiro de perguntas e respostas. Agora precisamos entrar em acordo se queremos saber para onde vamos, quem somos, o que sentimos ou se vamos viver tudo isso sem perguntas. Afinal, as respostas surgem naturalmente, não precisam ser provocadas ou pré-fabricadas. Questionários só desgastam, estressam, violentam todo e qualquer relacionamento. Amor não é vestibular, mas vale uma dica: pressuposto de amar é não desconfiar.

Nenhuma pergunta acontece por acontecer. Todas têm segundas intenções e a maioria, um quê de veneno. Quem pergunta, duvida. E dúvida é o combustível perfeito para a derrocada de qualquer relação a dois. O vírus da incerteza, em termos de estragos, é pior do que o ato em si. Se existe um codinome para demônios, sem dúvida é “dúvida”. Então, pra que interrogar? Não basta viver um amor, será preciso sabê-lo? Entre você e eu há um mundo inteiro de perguntas e respostas disfarçado de buraco negro, pronto a sugar os amantes....
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Sem rumo

Não sei quem sou. Sei que ando. Não sei o rumo. Piso em folhas secas que não agüentaram esperar pela primavera e que os jardineiros não tiveram pressa para varrer. Ouço vozes. Olho para os prédios e só vejo vida nas luzes que ultrapassam os vidros das varandas. Janelas. As vozes pareciam ser do concreto. Mais a frente, um cachorro me olha desconfiado. Mais a frente ainda, um grupo de seis meninas ensaia uma coreografia. Passos para lá. Passos para cá. E meus passos são para frente. Para frente rumo ao passado. Ao passado do futuro. ...
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Sem saída

Sem saída. Eis o estado que define a mulher que nem se valera do último amor nem se livrara dele. O último romance não foi o suficiente para fazê-la feliz e era mais do que suficiente para impedi-la de se apaixonar novamente. Ora parecia querer amar de novo ora queria reviver o caso mal resolvido. Queria voar outros céus, beijar outras bocas, entregar-se a outras entregas, mas não tinha coragem de trair o que não conseguia chamar de passado.

Não acreditava mais naquele amor, mas não o desacreditava. Não sabia por onde sair. Pedia conselhos à mãe, à irmã, aos amigos mais próximos, mas tudo girava dentro da sua cabeça e ela não chegava a lugar algum. Na verdade, o que ela mais queria é que ele terminasse esse pseudo-namoro. Ela ficaria com raiva, num choro só, mas depois poderia re-começar, tentar de novo com outro alguém. Afinal, não gostava de ficar sozinha. E isso era o que mais lhe incomodava. Aquele velho ditado ? antes só do que mal acompanhada ? não fazia o menor sentido para ela....
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13/01/2015 - Sem sapatos

Tão logo chegou tirou os sapatos e pisou naquele chão frio e translúcido da nascente que ficava nas terras do seu Adelor, um velho fazendeiro que cansado de contar riqueza pendurou uma rede na varanda para de lá nunca mais sair. Bem longe da casa grande e sem pensar no senhor daquelas terras livrou os pés que viviam trancados naqueles materiais sintéticos. Sim, seus pés viviam numa espécie de natureza morta. As unhas, bem feitas, reluziam por aquela água limpinha. E ela caminhava sem culpa por aquele solo que mais parecia nuvem. Sentiu-se livre. E sem emitir som algum, conversou com Deus. Um contato íntimo com a terra, com o mundo, com o universo. Ela, que na maioria dos dias era fogo, viu-se água. E seus pés ficaram doces, seu corpo ficou doce, e até o choro que verteu de uma emoção ainda não diagnosticada caiu doce naquelas águas que tinham uma espécie de mel. Essa espécie de abelha ficava intocada no chão e produzia esse néctar que borbulhava numa água recém-nascida. O velho Adelor não dava importância para aquelas borbulhas, tampouco para o gosto daquela água, pois só tomava conhaque e cachaça de alambique. Já aquela mulher de ossos finos tomava todo o cuidado necessário para não estragar nada. Pisava com zelo. E até para beber aquela água pedia licença ao lugar. Era de uma elegância de cristal. No início, destoava muito, mas pouco a pouco foi se tornando parte da paisagem a ponto de uma garça mais atrevida paquerá-la. Pena que tinha de voltar para os sapatos, para um caso de cara mais ruim que seu Adelor e para a vida salgada de sempre.


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