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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 189 de 320.
06/09/2011 -
Quero mudar
Quero mudar. Mudar de ares, de pecados, de existência. Mudar de estilo. Mudar de endereço. Mudar de expressão. Mudar de telefone. Mudar de identidade. Mudar de carro. Mudar de rota. Mudar de estrada. Mudar de disputa. Mudar de tempo. Mudar de deus. Mudar de tempero. Mudar de rosto. Mudar de espelho. Mudar de tom. Mudar de roupa. Mudar de geometria. Mudar de perfume. Mudar de perguntas e respostas.
Quero mudar de destino, de bebida, de email, de fotografia. Mudar de herói. Mudar de sorriso. Mudar de sotaque. Mudar de terra. Mudar de dimensão. Mudar de estrela. Mudar de visão. Mudar de opinião. Mudar de autor. Mudar de canção. Mudar de número da sorte. Mudar de verso. Mudar de arquitetura. Mudar de eixo. Mudar de conjuntura. Mudar de cenário. Mudar de nota. Mudar de rotação. ...
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05/09/2011 -
Do inverno à primavera
O inverno, seco e frio, rigoroso e bravio, está prestes a morrer nos braços perfumados da primavera. O gigante das geadas e estiagens caindo aos pés da dama das flores. Flores de algodão, de colibri, de meia-estação. O gado magro voltará a ganhar carne. O mendigo poderá dormir tranquilo, sem o pesadelo de sofrer uma hiportemia no meio da rua. Os leitos dos rios, rachados se sol, ganharão a revisita das águas. Os canteiros empoeirados serão coloridos naturalmente por tons fortes e femininos.
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04/09/2011 -
Refeição literária
Amanheceu e não tomou o café da manhã de costume. Torradas, sucos, geléias, pães, frutas ficaram sobre a mesa. Intocáveis. Estava sem fome. Ao menos, sem fome de comida. Ao menos, daquele tipo de comida. Sua mulher estranhou. Ofereceu-lhe então ovos mexidos, bolos de cenoura, pães de mel. Ele torceu o nariz. Estava entojado daquelas iguarias. Ela ainda tentou mais uma vez: champanhe? O não veio como num estouro de rolha, alto e seco.
A filha, aproveitando da situação, sugeriu que o pai pedisse uma pizza. Ele riu e saiu da mesa às pressas. Pegou um paletó e saiu dizendo que ia comprar comida. A esposa não entendeu nada e a filha lamentou a falta da pizza. Horas depois chegou com sacolas e mais sacolas. Mas não eram sacolas de supermercado com legumes, verduras, carnes, frios, enlatados supérfluos... Eram sacolas de livrarias. Pelo menos cinco delas. Nem sinal de comida. ...
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03/09/2011 -
Onomatopéico
Toc Toc! Quem é? Atchim! Saúde. Au au! Se esconda. Bi bi fom fom! Shhhhhh. Não vá perder o piuí piuí. Vá acudir o unhe unhe. Toc toc! Quem bate? Nhecc! Piiiii. É o guarda. Booom. Se proteja. Há há há! Não achei graça. Fiu fiu! Que linda. Tchibum! Que calor. Blém blém! O padre está chamando. Cof cof. Não estou bem. Méee. Muuu. Béee. Que confusão no quintal. U u á á. Uga uga. Será macaco ou índio? Nhac Nhac. Crunch. Quer um pedaço? Sei não. Hmm. Que pena. Aiai. Burp. Desculpe. Argh! Que nojo. Ssssssss. Mata o mosquito, mata! Zum zum. O mel deve estar perto. Clap, clap! Bravo, bravo! ...
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02/09/2011 -
Reconsiderações
Mande seus medos para a masmorra mais distante de seu reino. Acorrente suas frustrações de modo que elas não consigam voltar a sua cabeça. Alimente bem cada um de seus sonhos, dos mais próximos aos mais impossíveis. Eduque-se para o amor e também para a guerra. Reescreva seu destino quantas vezes for preciso. Traia para continuar sendo fiel aos seus valores. Peça perdão as suas dores.
Diga o silêncio sempre que não tiver nada lírico ou revolucionário para dizer. Ame sem posologias, precauções e sem contra-indicações. Chore para limpar os olhos e lavar as escadarias da sua alma. Guarde as lembranças do que não teve coragem de fazer no fundo do baú. Revire seus pensamentos, desarrume a ordem vigente. Quebre expectativas, iluda o espelho, encaracole desejos em seu cabelo. ...
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01/09/2011 -
Senna, mais do que um sobrenome
Um sobrenome diz tudo e, ao mesmo tempo, nada. Por maior que seja a tentação, não se deve criar expectativa em relação a um sobrenome, a uma linhagem, a um laço consangüíneo ou genético. Ninguém é a continuação idêntica de alguém. Os reinados, as virtudes, os olhares, os feitos, enfim, tudo muda de pessoa para pessoa. Muitos – por serem indignos dele - não deveriam sequer fazer uso do brasão da família.
No circo da Fórmula-1 os sobrenomes são maiores que os próprios nomes. O que soa mais forte: Juan, Jack, Alain, Niki, Jackie, Nigel ou, respectivamente, Fangio, Brabham, Prost, Lauda, Stewart, Mansell? O problema é quando filhos, netos, sobrinhos ousam trilhar o caminho de seus parentes famosos. Nelsinho Piquet, Nico Rosberg, Ralf Schumacher, Jackie Villeneuve, Damon Hill são exemplos de que o sobrenome não faz o mito. Ajuda muito fora do carro, dentro dele não faz mágica. ...
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31/08/2011 -
Além do tempo
Além do tempo deve existir um beijo bom. Além do tempo há de se cumprir um tratado de paz permanente entre o amor e o ódio. Além do tempo há de se querer mais do que em qualquer outro tempo. Além do tempo o sol finalmente se entrega à brancura da lua. Além do tempo há de estar morto e sepultado, e quiçá esquecido, o tempo do adeus.
Além do tempo reina um novo sentido geométrico, gramatical e, até mesmo, existencial. Além do tempo vive um povo que brinca de roda e não se importa com a moda. Além do tempo palpita uma canção de amor atemporal. Além do tempo os passarinhos voam pelos céus da nossa boca em acrobacias que nos fazem duvidar da força da gravidade. ...
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30/08/2011 -
Sozinho
O mar dos seus olhos arrebentou e me inundou inteirinho. O céu da sua boca serenou e me molhou de beijos miudinhos. A sua alma morena fermentou e virou vinho. A sua pele descosturou e um deus alfaiate lhe remendou com um pedaço do meu linho. O seu passo cruzou o meu e me levou para o seu caminho. O seu verso voou e pousou no mato, no mais alto ninho. A sua flor desabrochou e me falou que não tem espinho.
A sua bola de cristal quebrou e me indicou para ser seu adivinho. A sua canção desafinou e entornou meu cavaquinho. O sino do seu peito badalou e me chamou bem de mansinho. O seu passado levantou e rodou nos braços do moinho. O moreno lhe tomou de abraços e sacolejou seu corpo no pelourinho. O seu pé de vento virou e formou um redemoinho. A saudade rodopiou e o tempo se instalou como meu vizinho.

29/08/2011 -
Injustiças
Injusta é a espera que nunca chega ao fim. Injusta é a maneira que me toma. Injusta é a conta que nunca cessa. Injusta é a fome que roncando se manifesta. Injusta é a quebra de expectativa. Injusta é a seca que não distingue suas vítimas. Injusta é a sofreguidão dos inocentes. Injusta é a batalha entre verdades e mentiras. Injusta é a fogueira onde queimam as bruxas que me habitam. Injusta é a preocupação que não dorme em mim. Injusta é a falta que consome com o auxílio do tempo.
Injusta é a lâmina da descrença que me fere. Injusta é a boca que me abocanha. Injusta é a mão que me tira. Injusta é a língua que nos julgam. Injusta é a mentira que me conta. Injusta é sentença que me obriga a cumprir. Injusta é a palavra com que me apedreja. Injusta é a acusação que me levanta. Injusta é a ira sem propósito. Injusta é a cara feia sem remédio. Injusta é a força bruta que tudo tomba. Injusta é a incompreensão que lhe habita. Injusta é a raiva que toda vez, deslealmente, vence a ternura...
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28/08/2011 -
Pai Joaquim das Cachoeiras
Toca o sino, bate o tambor, Pai Joaquim das Cachoeiras chegou para abrir minhas porteiras. Eê preto velho, filho de Xangô, guarda as águas das cachoeiras que formam o grande rio onde Oxalá se batizou. Veio do raio de Olorum para lavar toda inveja, todo mau-olhado, todo mal que ficou.
Pai Joaquim veio, sob o comando de Iemanjá, para limpar tudo de ruim que fulano me jogou. Cicrano me amaldiçoou, livrai-me Pai Joaquim. Afasta esse encosto de mim. Beltrano me esconjurou! Pai das Cachoeiras, do ramo do povo das águas e das sereias, fui eu quem lhe chamou. ...
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