Daniel Campos

Prosas

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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 188 de 320.

16/09/2011 - Quando eu era pequeno

Quando eu era pequeno, não me lembro. Quando eu era pequeno, sonhava em morar na lua. Quando eu era pequeno, tinha medo de crescer. Quando eu era pequeno, empinava sonhos. Quando eu era pequeno, zombava da morte. Quando eu era pequeno, acreditava que as bruxas não eram capazes de sair dos livros. Quando eu era pequeno, acendia vagalumes como quem acende abajures antes de dormir.

Quando eu era pequeno, me vestia de chuva. Quando eu era pequeno, sentia-me protegido por anjos sem rosto. Quando eu era pequeno, ficava invisível. Quando eu era pequeno, queria ser muitos em um só. Quando eu era pequeno, era parte de uma espécie de mitologia particular. Quando eu era pequeno, era íntimo dos senhores da imaginação. Quando eu era pequeno, meus silêncios tinham outro som. ...
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15/09/2011 - Presença da ausência

Pelo restante dos meus dias caminharei a sua procura num vício sem cura. Acordado ou dopado de sono, em pé ou tombado de abandono, com uma multidão de eus ou sem dono, hei de segui-la. Pelo restante dos meus dias rumarei pelos seus passos sofrendo e provocando embaraços de terceiro grau. Pelo canavial, pelo astral, pelo carnaval, pelo temporal hei de procurar suas marcas, suas pistas, suas evidências...

Pelo restante dos meus dias lutarei para me lembrar do que foi hoje, ontem, anteontem e do que será amanhã. Vencer a amnésia e o ceticismo que se fortalecem com o passar dos dias. Pelo restante dos meus dias buscarei cada detalhe seu, cada minúcia, cada gesto e palavra pendente no ar. Hei de colecionar em uma tatuagem sentimental suas bobagens, suas imagens, suas paisagens, suas chuvas e suas aragens....
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14/09/2011 - Fugas de pesadelo

Ela acordou de um pesadelo real ou imaginário. Às vezes quanto mais absurdo o espanto mais palpável o medo vivido durante o sono. Seja o que fosse, perdeu o sono e ficou pensando naquilo que tanto a assustara. Seus olhos secaram como que inteiramente tomada por uma estiagem particular. Não quis ler, tomar um chá, engolir um remédio, fazer um telefonema, ligar a televisão... Ela não gritou, não suou, não tossiu, apenas ficou paralisada no seu canto da cama como que enfeitiçada por uma espécie de presságio maléfico, inevitável e tão concreto quão sua insônia. ...
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13/09/2011 - Insolação

Fugir do sol deixou de ser um capricho assim como viver às sombras, na sombra de algo ou alguém, não é mais motivo de crítica. Escapar do brilho do astro é uma necessidade fundamental. Um fator vital para a continuidade da espécie. Os raios violetas castigam, ferem, matam. O calor sufoca. Há um abafamento generalizado solto por aí.

Ao contrário dos corpos dourados, a moda evidencia os corpos pálidos. Enquanto o desejo esquenta, as cores frias refrescam os olhos alheios. O que está em alta é a refrescância das mulheres drops de hortelã. Para os corações de uísque, incluindo os dos caubóis, pedras e mais pedras de gelo. Entram em cena os perfumes cítricos. ...
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12/09/2011 - Quando ela, eu...

Quando acordou, eu não vi. Quando calou, eu sorri. Quando chorou, eu tava aqui. Quando falou, não ouvi. Quando passou, bem-te-vi. Quando escapou, eu caí. Quando amou, eu vivi. Quando se entregou, não fugi. Quando precisou, eu lhe assumi. Quando negou, me abati. Quando fechou, eu abri. Quando assoviou, fui prali. Quando voou, voou colibri. Quando pecou, eu encobri. Quando provocou, frenesi. Quando multiplicou, dividi. Quando secou, flori. Quando chamou, lati. Quando recuou, eu rompi. Quando foi sol, fui jaci. Quando se perfumou, patchuli. Quando avançou, peraí. Quando amaldiçoou, benzi. Quando ensinou, desaprendi. Quando beijou, mordi. Quando soprou, ardi. Quando me achou, me perdi. Quando chegou, me despedi. ...
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11/09/2011 - Mulher paisagem

Olhos coloridos como chita. Destinos trançados como vime. Boca de cumbuca. Sentimentos artesanais. Mulher dos vilarejos, dos beijos naturais. Suas costas são como falésias, desafiadoras, solitárias e assassinas. Mulher de olhares chuvosos, alma forte e corpo sinuoso. Tem um bafo úmido de calor, como se estivesse em febre constante. Mas, pelos seus cabelos, reina um vento noroeste que tem efeito de refresco de caju com três pedras de gelo.

Mulher das aventuras e do sossego. Mulher do agito, do grito, da paquera. Mulher de um quê bonito e de um querer de fera. Mulher da natureza, da franqueza, da era das águas. Mulher da contemplação, da solidão, das mágoas. Mulher das provas, das trovas, das covas. Mulher, lua alaranjada, nua de suas anáguas, subindo por entre o lilás e o azul escuro da noite. Mulher do açoite, do coiote, do trote. Mulher das ruelas e da areia fofa, sem endereço e sem luz elétrica. Mulher sagrada e cética. ...
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10/09/2011 - Consulta à telefonista

Alô! Telefonista? Por favor, me ligue com a bruxa disponível, com o mago em atividade, com a feiticeira mais próxima. Ah?! Eu quero falar com alguém do setor de magia. Não! Não serve cartomante, vidente, cigana, babalorixá. Se preferível, quero ser atendido por algum descendente dos celtas. Preciso falar com alguém que entenda de magia branca, magia negra, magia azul. Pode ser do hemisfério norte ou do círculo sul...

Não, não telefonista, não me importa se ela for velha, nariguda e encarquilhada e gargalhe assustadoramente durante o telefonema. Também não me preocupo com o preço. A necessidade me obriga a queimar todas as minhas reservas. Pode fazer um interurbano para alguma vassoura em pleno vôo, para o mais sombrio dos pântanos ou para um castelo europeu. Rápido. Não tenho muito tempo. ...
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09/09/2011 - Se for

Se for para me tirarem o ar, que seja por meio de um beijo asfixiante. Se for para me tirarem o chão, que me levem para bem alto. Se for para me tirarem o paladar, que me deixem intacto, ao menos, o sabor de um uísque. Se for para me tirarem o brilho, que não matem as estrelas que me habitam. Se for para me tirar a saúde, que minha dor seja nobre. Se for para me tirarem o olfato, que eu não passe incólume pelo perfume dos anjos. Se for para me tirarem o sonho, que me engravidem de ilusão.
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08/09/2011 - A mulher, o cacto e o mar

Entre o mar e o deserto, um sorriso róseo que, por si só, se destaca naquele marrom-acinzentado tornando-se, assim que surge, uma caça em potencial. Mas como surge? O sol grita e a mulher nasce daqueles cactos corpulentos. Nasce ferida pelos espinhos, manchada pelo sofrimento de um amor mexicano. Seus olhos, ora áridos ora marejados, têm bordas infinitas que desobedecem as regras da perspectiva.

Sai pelo deserto afora e dança, entre rochas e areia, os passos de uma seresta de mariachis. Mulher de um calor abrasador, cujo hálito é refrescante como os ventos do Pacífico. Pelos seus pensamentos rodopiam tormentas tropicais e casamentos zodiacais. Não há como acertar a previsão climática, sentimental, astral dessa mulher que muda corpo e espírito com a mesma freqüência e facilidade de grãos de areia ao vento. ...
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07/09/2011 - Sete setembros

Eram sete pedros, sete gritos, sete cavalos, sete ipirangas. Era sete dúvidas, sete desejos, sete mentiras, sete libras esterlinas. Eram sete coroas, sete chacotas, sete personagens, sete botas. Eram sete verdes, sete amarelos, sete riachos. Eram sete príncipes, sete espadas, sete ilusões. Eram sete independências, sete mortes.

Eram sete contestadores, sete guerras, sete iluministas. Eram sete napoleões, sete destinos, sete fugas. Eram sete colônias, sete políticas, sete acordos, sete pecados. Eram sete famílias, sete amores, sete traições. Eram sete contradições, sete escravocratas, sete sonhadores. Eram sete prosas, sete territórios, sete purgatórios. ...
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