Daniel Campos

Prosas

Ou exibir apenas títulos iniciados por:

A  B  C  D  E  F  G  H  I  J  K  L  M  N  O  P  Q  R  S  T  U  V  W  X  Y  Z  todos

Ordernar por: mais novos  

Encontrados 3193 textos. Exibindo página 186 de 320.

06/10/2011 - A casa do caboclo

O que cai do céu não se sabe se é chuva ou o choro do Caboclo das Sete Encruzilhadas diante da destruição de sua casa. Ao golpe de marretadas, telhados e paredes que abrigaram o berço da Umbanda vão ao chão. Acabam com o marco inicial da religião genuinamente brasileira. Destroem mais de cem anos de história, forjada com muita luta e sacrifício. Ôô sacerdote, ôo curandeiro! Os espíritos dos caboclos e dos pretos velhos estão na rua Floriano Peixoto, número 30, no bairro de Neves, no município de São Gonçalo, Rio de Janeiro, despedindo-se do terreiro que é a certidão de nascimento da Umbanda. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

05/10/2011 - Doce tristeza

Nada ao seu redor conseguia ser mais triste do que seus olhos entristecidos pela falta de deus. Uma situação de abandono, uma sensação de falta de dono, uma carência de filha deixada pelo caminho. De quem seria sua alma se o apocalipse se cumprisse agora? Por não saber responder, calava-se numa tristeza fatal e conflituosa.

Uma tristeza que, mergulhada em seus olhos de compotas, cortava como lâmina amolada nas pedras do tempo. Sua tristeza, em flor, espalhava-se pelos jardins da solidão, descolorida e rasteira, como planta misteriosa que distende os ramos querendo juntar bocas e espinhos num mesmo beijo. ...
continuar a ler


Comentários (2)

04/10/2011 - Eduardo Matarazzo Suplicy

Suplicy. Tradicional e, ao mesmo tempo, contemporâneo. Suave nas notas iniciais e extraforte nas finais. Tipo exportação. Cultura permanente. Safra em movimento. Suas palavras têm aroma e sabor. Discursos encorpados que despertam e estimulam a criatividade e as atitudes alheias. Ideias e ideais que podem ser bebidos no café da manhã, após o almoço, numa roda de amigos ou solitariamente. Pensamentos que brotam, dão flores e lançam sementes como um bom pé de café. Presente nos barracos, nas casas do campo, nos palácios. Puro ou acompanhado, Suplicy é sempre uma boa pedida. Simples e sofisticado, faz parte do dia-a-dia de brancos e negros, de homens e mulheres, de jovens e idosos. Charme e elegância saborizados. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

03/10/2011 - Quem é que não tem medo?

Quem é que não tem medo dos pássaros da noite que pousam nas mãos de Iyá Mi Osorongá? Quem é que não tem medo dos vendavais de Iansã? Quem é que não tem medo dos pântanos de Nanã? Quem é que não tem medo da vidência de Yewá? Quem é que não tem medo das encruzilhadas de Exu?

Quem é que não medo do firmamento, Ofurufu. Quem é que não tem medo da morte, Omulu. Quem é que não tem medo do perigossímo odu Oyeku Meji que governa a meia-noite? Quem é que não tem medo do poder de sedução de Oxum? Quem é que não tem medo das armas de Ogum? Quem é que não tem medo do poderio de Olurum? Quem é que não tem medo da arrebentação de Iemanjá? ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

02/10/2011 - Mulher e pássaro

A mulher é pássaro que voa longe. Seus cabelos são como nuvens, que passam por nós. Suas costas vão roçando o horizonte e sua boca bebendo sol comendo lua. Quando ela abre suas asas ninguém sabe onde vai parar. Vem e vai ao vento, varrendo céu, cruzando mar. Rompe plantações, porteiras fechadas e estações. Voa molhada de chuva e de prazer. Voa azul turquesa, lilás, amarela, vermelha e negra ao anoitecer. Faz pouso nas estrelas e nas gaiolas do seu absoluto querer.

No alto do salto de um sapato alto ou de um sobressalto, a mulher faz seu vôo. Um vôo cego de intenções, de aflições, de orações. Um vôo em que deixa para trás o tempo fugaz, os olhos do rapaz, os amores surreais, as paixões carnais, as desilusões fatais. Precisa de leveza de alma para voar. Não pode levar sobrepesos de expectativas ou de solidões contigo. Precisa se desligar de seu umbigo e se entregar ao infinito como se o nada fosse o seu único e mais bonito abrigo. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

01/10/2011 - Rosas de sangue e pólvora

Dos mortos de guerra, soldados-cadáveres, nascerão dúzias de rosas, de belas rosas de sangue e pólvora. Dos túmulos erguer-se-ão anjos de pedra em poses fotográficas, numa graciosidade mansa e cálida. Poetas e bêbados cantarão suas glórias sob uma lua pálida. Os heróis do combate serão responsáveis por tantas gravidezes póstumas, tantos filhos dos seus gritos de guerra. Da guerra renascerá uma nova terra, mais forte e com menos medo da morte. Os mortos de guerra escorrerão como rios perenes nas faces de suas mães, viúvas, irmãs, crianças. Os combatentes desaparecidos serão encontrados facilmente nas páginas das cartilhas escolares. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

30/09/2011 - Jacy (Minas-Brasília) Afonso

Ê Minas, ê Minas!

Aos apitos festeiros, uma maria-fumaça traz vagões e mais vagões de histórias para uma cidade que ainda constrói seus trilhos. Nos olhos de um homem-menino o mundo das tradições se mistura ao cenário contemporâneo. O barroco voa nas asas do modernismo. Aleijadinho e Niemayer dividem a mesma escultura. As veredas de Guimarães Rosa seguem paralelas aos eixos de Lucio Costa. Com muito a contar, as folhas das janelas de madeira se abrem aos calados prédios espelhados. As pedras das ladeiras e os azulejos de Athos Bulcão se encontram no botequim do horizonte. ...
continuar a ler


Comentários (3)

29/09/2011 - Não estamos sozinhos

Não estamos sozinhos. Há sempre alguém a nos espionar, a nos bisbilhotar, a nos rondar. Pode ser um caçador, um espírito, um extraterrestre. São olhos e câmeras capturando todo e qualquer movimento que possa ser feito ou desfeito por nós. Não estamos sozinhos. Estamos sempre na mira de alguém. Há sempre uma sombra sobreposta ao nosso lado oculto. Há sempre um perfume misturado ao nosso cheiro. Há sempre um eco perseguindo nossas palavras.

Não estamos sozinhos. Há sempre um cálice amparando nosso vinho. Há sempre um filho querendo sair de nossas barrigas. Há sempre uma lua negra facetando a nossa lua branca. Há sempre um fantasma entre nosso passado e nosso futuro. Não estamos sozinhos. Há alguém que respira em nossa nuca. Há alguém que roça nossas costas. Há alguém que coça os nossos medos. Há alguém que coexiste com nossos paralelos. Há alguém que não nos permite estar a sós com o que há dentro ou fora de nós....
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

28/09/2011 - Uma palavra

Uma palavra é mais do que eu posso dizer. Uma palavra é menos do que eu queria ouvir. Uma palavra pro estômago, outra pro santo. Uma palavra à medida do meu silêncio. Uma palavra que grita. Uma palavra que berra. Uma palavra que erra. Uma palavra de sangue. Uma palavra de honra. Uma palavra de destino. Uma palavra de menino. Uma palavra ao vento. Uma palavra úmida. Uma palavra perdida. Uma palavra remota. Uma palavra de canto.

Uma palavra e duas pedras de gelo. Uma palavra fria. Uma palavra que faz a ponte. Uma palavra vazia. Uma palavra sem volta. Uma palavra que arrepia. Uma palavra suspensa. Uma palavra intensa. Uma palavra final. Uma palavra sem boca. Uma palavra livre. Uma palavra errada. Uma palavra proibida. Uma palavra mocinha, outra bandida. Uma palavra borrada de batom. Uma palavra caída. Uma palavra que fere. Uma palavra à flor da pele. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

27/09/2011 - Ela voltou

Ela voltou. Ela voltou boemia, noite adentro, madrugada afora. Ela voltou calma e tranqüila. Ela voltou na ponta dos pés. Ela voltou leve e deveras perfumada. Ela voltou no meio de um vendaval. Ela voltou calando a terra. Ela voltou provocando cantorias. Ela voltou num clima de comemoração. Ela voltou com os olhos d’água do verão passado. Ela voltou com hálito úmido e corpo intimamente encharcado.

Ela voltou à boca miúda, sem estrondos ou holofotes. Ela voltou magra e fresca. Ela voltou no mesmo ritmo, dona da mesma sinfonia. Ela voltou apagando a poeira da saudade. Ela voltou beijando as flores em coma. Ela voltou declarando guerra aos pássaros secos. Ela voltou contínua, prometendo longa estadia. Ela voltou entre o sono e a fantasia. Ela voltou banhada de doce sem saber se veio por si ou se algo a trouxe....
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

Primeira   Anterior   184  185  186  187  188   Seguinte   Ultima