Ou exibir apenas títulos iniciados por:
A  B  C  D  E  F  G  H  I  J  K  L  M  N  O  P  Q  R  S  T  U  V  W  X  Y  Z  todosOrdernar por: mais novos
Encontrados 3193 textos. Exibindo página 185 de 320.
16/10/2011 -
Sons da noite
Quando a noite cai, sussurros e urros chegam cegos aos nossos ouvidos. Mensagens urgentes trançam pernas no escuro, tropeçam em declarações antigas. Tudo se mistura, tudo se confunde e se funde na noite escura. São tantos sons se procriando na noite. São gemidos abraçados, versos alados, refrões casados, vozes do presente, do futuro e do passado no mesmo espaço. Sons cardíacos, viscerais, animais. Sons que atravessam paredes, corpos, dimensões.
Quando tudo se aquieta, a noite cai em sinfonia. O que a noite toca, vira música. As rezadeiras cochicham orações. Até mesmo a lua chega a cantar em vibrações que só alcançam os mais apaixonados ouvidos. São grilos, besouros, corujas, pirilampos, ratos e outras criaturas se expressando verbalmente, cada qual a sua maneira. Isso sem falar das almas penadas que ao contrário de arrastar correntes, colocam a conversa em dia. Durante a noite, as línguas se amam sonoramente. ...
continuar a ler

15/10/2011 -
Desejo de jabuticaba
O meu reino por um pé de jabuticaba. Trocaria toda minha cavalaria, a beleza da minha realeza, por uma jabuticabeira. Alguma feiticeira deve ter colocado todo o sabor da noite naquelas frutas nascidas como flores de primavera. Como é doce escutar aquele ploct entre os dentes. Uma explosão de caldo, de vida, de lembranças. Comer jabuticaba do pé, dependurado entre os galhos, dividindo espaço com as abelhas. Uma paixão cíclica, que por mais que seja eterna, precisa da saudade para se renovar.
...
continuar a ler

14/10/2011 -
Sopro de mulher
A mulher amada é como o vento que sopra sobre a cidade. Ora acalanta ora destrói o mundo alheio, quando não até o próprio. É um vento carregado de anteontem querendo, a todo custo, alcançar o futuro nem que para isso precise passar por nós ou nos levar com ela, em seus redemoinhos. Ora traz chuva ora alimenta o fogo ora seca o orvalho. Ninguém sabe que hora vai chegar ou que hora vai partir. Ora é uma rajada fria ora um alimento quente.
A única certeza é de que ninguém a prende entre os dedos ou num quarto escuro. Ela sempre parte à solta. Cavalga por nuvens ou pelo éter do infinito. É contínua. Quando quer traz ciscos aos olhos ou os enxuga de qualquer lágrima. Carrega luas, balões, polens e poeiras em seus braços. Passa entre espinhos sem se machucar. Entra em todos os ambientes, espalha todos os segredos, semeia os mais variados perfumes e uma leva de desastres. ...
continuar a ler

13/10/2011 -
O amor me faz assim
O amor me domina, me tira do sério, me rouba o juízo, me dá sua língua. O amor me agiganta, me transmuta, me leva a outra dimensão. O amor nunca obedece as minhas fronteiras, rompe meus limites, confunde meu sim com seu não. O amor em mim é marco e micro, sol e chuva, luz e escuridão ao mesmo momento. O amor me multiplica, me acaricia e me esbofeteia com a mesma intensidade. O amor me transforma em saudade, em distância, em silêncio...
O amor me faz repensar a solidão, a ciência e o tempo. O amor me tira do chão, e depois me faz cair do céu mais alto, e depois ainda me entrega novas asas. O amor me condena, me inocenta, nunca me esquece ao longo de sua sentença. O amor me faz andar contra a corrente, matando ou morrendo em nome dele. O amor me lê e permite que eu o escreva. O amor me hipnotiza, me faz de gato e sapato e depois explode dentro de mim átomos e mais átomos de amor. ...
continuar a ler

12/10/2011 -
A gente
E se a gente de repente, absolutamente, mudasse a direção, o sentido e o ritmo dessa jornada que anda tão ausente da gente. Sobra passado e falta presente em nossa frente dissidente de batalha. Antigamente nossa trajetória era adjacente, agora escapa pela tangente. O que era abrangente ficou restrito e o que era bonito se tornou delinqüente. A flor, a fruta, a folha, a raiz... Nada está perdido, tudo está contido numa semente. Uma semente de afeto permanente, uma semente afluente louca para germinar como uma sobrevivente do melhor e do pior da gente....
continuar a ler

11/10/2011 -
Oceânica
Suas lágrimas dão sabor a minha pele, a minha alma, a minha jornada terrena. Sua salga ora suaviza ora ressalta o gosto de um sentimento, dependendo da intensidade de seu choro. Também altera a minha cor e a textura dos meus pensamentos. O pranto é simples, intuitivo, receptivo.
Uma desilusão, uma decepção ou uma traição força a saída do sentimento salobro, desidratando sua alma de sereia. Quanto mais dor, mais sal e mais intensa a desidratação. O cenário influencia a salga. E o tipo de choro também faz diferença ao temperar corações alheios....
continuar a ler

10/10/2011 -
O amor e suas coisas
Não há razão alguma para resistir ao amor em nenhuma de suas formas. O amor chega escancarando portas, desobedecendo a normas, quebrando correntes, ignorando o segredo dos cadeados. De nada vale fingir ou adiar o que não tem desculpa. O amor, mesmo perdido, acha a criatura amada, seja nos porões do esquecimento, nas masmorras da solidão ou em qualquer outro esconderijo físico ou psicológico. Não há tempo ou espaço que detenha a sina de um amor de se cumprir em nós.
O amor já nasce jurado a ser amor por toda sua existência. É algo que foge da compreensão da ciência, que une pecado e inocência num mesmo corpo, contentamento e sofrimento num só tempo. Pode se ferido, mas não destruído. Pode ser proibido, mas não banido. Pode ser traído, mas não proibido. Pode ser bandido, mas não subtraído. O amor pode se transformar, mas vai continuar a ser amor, amor, amor......
continuar a ler

09/10/2011 -
Chuva fêmea
Minhas pernas em suas tabernas, eu bêbado de chuva e dançarino de estrelas. Ah! Ora pisava na ponta de uma das três marias ora caia nos domínios da ursa menor. Eu me pendurava ao vento, como se fosse uma peça de roupa somente, para logo perder a respiração numa tromba-d’água. Caia na lama, sujava a cama, trovejava em seus relâmpagos. Meu corpo ficava pesado e, ao mesmo tempo leve, cheirando a mato molhado.
E então veio o desejo de velejar pela chuva que escorria em sua pele, úmida e quente, em feitio de uma correnteza bravia. E o medo me seduzia e me enlouquecia e me convencia a ir mais longe. E tão logo me assumia náufrago me via capitão de seus afagos. Eu me sentia menino e ao mesmo tempo um velho lobo do mar. Queria valsar pelas ondas prendendo-a em meus braços ao longo de mil nós de marinheiro. ...
continuar a ler

08/10/2011 -
Steve Eva Jobs
Steve Joobs, como uma espécie de nova Eva, ao morder uma maçã gerou uma nova civilização. E se essas máquinas têm o seu DNA correndo em suas correntes elétricas o homem que morreu é o mesmo homem que viveu e viverá a cada download, a cada email, a cada clique do mouse. Steve Joobs enganou a serpente da morte ao entregar sua sorte em nossas mãos, ao levar seus sonhos para dentro da nossa casa, ao tomar de conta de nossos olhos e ouvidos e sentidos.
O homem que reinventou o nosso modo de escrever, de viajar, de corresponder, de saber, de navegar, de ouvir, de cantar, de aprender, de ensinar, de se divertir e de amar a máquina não pode simplesmente morrer. A morte, neste caso, é menor do que sua obra, do que sua revolução, do que sua linguagem. Seus filhos computadores e i-pads se misturaram aos homens causando prazer e dependência como uma nova Eva. Uma Eva tão inteligente quão sedutora. ...
continuar a ler

07/10/2011 -
Toda noite
Toda noite, um beijo de boa noite. Toda noite, a cama forrada. Toda noite, uma estrela caindo um pouco mais. Toda noite, uma canção de ninar. Toda noite, uma lua num balão de gás. Toda noite, o perfume dos anjos da guarda. Toda noite a dança dos pirilampos e siriris. Toda noite, os olhos abertos da coruja. Toda noite, o medo de assombração. Toda noite, o amor e a revolução se casando sob lençóis. Toda noite, sonos e sonhos. Toda noite, contos de fadas e princesas.
Toda noite, corpos colados. Toda noite, uma xícara de chá. Toda noite, um capítulo inédito de novela. Toda noite, um novo mesmo jeito de adormecer. Toda noite, uma saia rodada de abajur ilumina o quarto. Toda noite, um gato em serenata. Toda noite, velas e preces acesas. Toda noite, corações de pijamas. Toda noite, beijos de néon. Toda noite, o mingau das almas. Toda noite, o vento batendo o portão. Toda noite, silhuetas e sombras. Toda noite, piratas avançando sobre o oceano da escuridão....
continuar a ler
