Daniel Campos

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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 187 de 320.

26/09/2011 - A mulher que caminha pela praia

A mulher que caminha pela praia deseja, por ao menos um instante, que as ondas quebrem em seu corpo. A mulher que caminha pela praia, mesmo sem saber, rege o mar – suas pernas são, na verdade, as batutas de uma maestrina casual. A mulher que caminha pela praia vai misturando seu perfume, seu paladar, sua temperatura às gotículas frias e salgadas que sobem do oceano. A mulher que caminha pela praia, caminha em ondas. A mulher que caminha pela praia, lança olhares, em feitio de rede de pescadores, em busca dos mistérios mais profundos do mar profundo. ...
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25/09/2011 - O vento galanteador

Quando soprou o vento norte, ela estremeceu num típico fricote. Aquela ventania lhe envolveu, lhe roçou, lhe beijou, lhe possuiu. A sensação de frio lhe fez cobrir o decote do vestido. Ouviu vozes. Esconjurou a morte. Redobrou o sentido. Negou o arrepio. Olhou para o vazio com olhos assustados. Recitou baixinho aquele salmo que fala dos prados. Foi tomada por um imenso mal-estar. Ficou tonta e rodou como no balanço de um fado. Havia se afasto de Deus por inúmeras razões pessoais, porém, a aflição lhe fez pedir perdão de seus pecados. Andava para frente, para traz, para os lados. Ficou sem direção. Ensaiou um choro, mas suas lágrimas foram varridas do rosto pela ação do vento. E logo vieram sorrisos. O vento lhe fazia cócegas e ela ria como criança. ...
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24/09/2011 - Sobre a saudade

Há momentos na vida em que todo mundo precisa de uma saudade. Não qualquer saudade. Uma saudade boa, capaz de dar textura ou engrossar o tempo presente. Porque muitas vezes o presente não dá ponto de jeito algum. Uma saudade que não interfira no paladar essencial e atual da vida, mas que realce o sabor vivido. Até um tempo atrás, a saudade era sinônimo de sofrimento, de tristeza, de insegurança. Agora, a saudade é como aquele toque do chef. Chega para acrescentar positivamente falando, para tornar mágico o prato do cotidiano. ...
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23/09/2011 - Sommelier

Num dia eu escondo segredos, noutro eu os sirvo numa taça. De manhã, finjo para agradar. Na hora do almoço, me calo sobre todo e qualquer pecado. À noite, falo verdades demais. Sou uma espécie de sommelier das palavras. Sou crítico e não aceito críticas nem de deuses nem de mortais. Tenho universidades, pés que já amassaram muitas uvas e os mistérios da arte da sinceridade. Olhe-me nos olhos e tente me decifrar.

Eu indico poetas e romancistas, cronistas, contistas e cantores de poesia. Conheço-os a fundo. Vivo com eles dentro e fora de mim. Confie em minhas sugestões sem medo de se aventurar por textos de amores profundos e mundos de solidões. Ou não confie e fuja com muitos passos das minhas páginas como quem foge de outros braços. Sou um sommelier querendo lhe fazer provar o meu eu literário, a minha era de aquário......
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22/09/2011 - Sombras são

Tudo às escuras. Não há faísca alguma de luz pelo ar. Tudo escuro. Luzes apagadas. Abajures invisíveis. Carros sem faróis. Lanternas quebradas. Postes nus como árvores sem frutos. Noite de luto. Vagalumes extintos. Santos sem velas. Estrelas caídas. Lua em curto. Sol do Japão. Negro neon. Cegueira coletiva. Fontes de escuridão. Criaturas das sombras. O mal vencendo o bem. Anjos das trevas reinam absolutos.

Os fósforos estão úmidos. Os isqueiros se perderam. O acendedor elétrico dos eletrodomésticos não funciona mais. Os escoteiros se esqueceram de como tirar fagulhas das pedras. Nem Santa Barbara nem Iansã nem Zeus nem Thor mandam um raio sequer. Os fumantes morreram e com eles, seus cigarros. Não há qualquer curto-circuito, explosão, incêndio em curso. Depois da era de luz, o tempo do breu. ...
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21/09/2011 - Para lhe ver sorrir

Vou a Paris pedir pessoalmente para Claude Monet lhe pintar um sorriso impressionista. Hei de percorrer Ipanema até que Vinícius de Moraes lhe escreva um sorriso-soneto como era o seu, livre de qualquer métrica? Será que Mikhail Baryshnikov lhe ensinaria a sorrir na ponta dos pés? Quem sabe Tom Jobim não tenha um sorriso-canção inédito entre as teclas de seu piano. Com sorte, Mario Lago, vai lhe dizer como encenar um riso farto, capaz de convencer sua alma do estado de uma pseudofelicidade.
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20/09/2011 - Longe daqui

Longe daqui, ela caminha pelas curvas de seu corpo curvilíneo curvando olhares. Caminha entre pés de jatobá, com pés quase descalços, numa paisagem mágica, como que flutuando a alguns milímetros do chão. Bóia no ar como uma lua de sol, trocando suspiros e rugidos como se tivesse ascendente em leão. Vai como que levada pelo vento agreste, pela canção do entardecer, pela mensagem de algum mestre interplanetário. E, com influência de aquário, se enche de água mineral e nada em pensamentos que estão acima do bem e do mal. ...
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19/09/2011 - Santos ouvidos

O santo, cansado de tantos pedidos, tapou com suas mãos seus santos ouvidos. Basta, gritou aos devotos que não param de pedir. Há quem peça por meio de orações, rezando terços e ladainhas. Há quem vai direto ao assunto, sem rodeios, botando o dedo na cara do santo, exigindo um milagre. Há quem peça chantageando o santo com promessas de velas, de flores, de mudanças de comportamento, de sacrifícios. Há quem peça em jejum e quem cobra de barriga cheia.

Um único santo e milhões de pedidos engavetados em seus ouvidos. Um único santo promovido à última saída para diversos problemas. Cada um quer se salvar usando a condição de santo daquele homem escolhido por Deus. Querem agora que o santo, promovido a tal, se vire para curar doenças, arranjar emprego, arrumar casamento, conseguir dinheiro, proteção e perdão divino. Querem que ele derrame seu santo suor como uma espécie de poção milagreira. ...
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18/09/2011 - Rancho coração

Meu coração é como um rancho caipira, com canteiros de cheiro verde, moinhos de pedra, flores de erva doce, ninhos de galinha e fogão à lenha. Tem espaço para sanduíche de mortadela, para bolo de fubá, para roça de mandioca amarela. São sacas e mais sacas de arroz agulhinha, de feijão guandu, de açúcar mascavo. E por falar no doce da cana caiana, tem rapadura, melaço e batida de tacho.

Tem pé de goiaba vermelha, pé de jabuticaba sabará, pé de manga rosa, pé de sabiá. Tem jatobá, castanheira, abacateiro e jacarandá. Tem ipê roxo, amarelo, rosa e branco. Tem terreiro, procissão e dia santo. Tem varanda, terra batida e riacho. Tem porteira, cancela e cerca de arame farpado. Tem algodão, girassol e muito gado. Tem lavoura de milho, um bocado de trem e estribilho de cantador. ...
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17/09/2011 - Conan

No mundo das histórias em quadrinhos fui Tio Patinhas, fui Asterix, fui Conan. Além dos discos e dos livros, meu pai me emprestou seus gibis. As histórias do bárbaro da Ciméria sempre me seduziram. Uma literatura de fantasia que me conduzia pelos territórios da imaginação. Eram contos de espada e de feitiçaria, de violência e de poesia. Poesia heróica, construída entre o humano e o divino. Uma lenda com sangue correndo em suas veias. Página a página, naquele preto e branco, meus olhos se enchiam de magos, de demônios e de outras criaturas perdidas no tempo e em civilizações caídas no esquecimento. Pela coleção de quadrinhos de meu pai, fui me confrontando com a realidade que me açoitava. ...
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