Daniel Campos

Prosas

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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 10 de 320.

13/03/2013 - A minha

A minha sombra tem a sua silhueta. A minha lua tem as suas marcas de batom. A minha estrada tem os seus passos a me chamar. A minha loucura tem origem em você. A minha maçã tem a sua mordida. A minha insônia passa pelo seu sono. A minha rotina é lhe conjugar nos verbos mais apaixonados da nossa língua. A minha apoteose começa nos seus pés. A minha saudade tem o seu formato, o seu conteúdo, o seu nome. A minha reta entorta quando lhe encontra. A minha fome é a sua fartura.

A minha música nasce dos seus tons. A minha tristeza é banhada pelo seu pranto. O meu segredo é o seu mistério. A minha dor só acaba com seus remédios. A minha cor muda de acordo com a sua pintura. A minha realidade tem fundo na sua ficção e vice-versa. A minha janela dá para os seus olhos. A minha pulsação está marcada no seu ritmo. A minha sede me leva para suas águas. A minha liberdade está condicionada a forma como você me aprisiona. ...
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17/03/2013 - A minha cabeça

A minha cabeça é ninho de marimbondo. A minha cabeça é caminho aberto por Exu. A minha cabeça é onde escondo tudo o que sou. A minha cabeça é bossa, samba e soul. A minha cabeça é um amontoado de escombro. A minha cabeça é sentimento misturado a pensamento. A minha cabeça é nascedouro de estrela. A minha cabeça é mina de choro. A minha cabeça é projetor de olhares. A minha cabeça é acasalamento de lugares. A minha cabeça é trama de quem ama. A minha cabeça é cigana que dança a saudade. A minha cabeça é a individualidade que anda aos pares. ...
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30/07/2016 - A minha casa é a sua casa

Eu te quero só para mim. Amo-te inteiro demais para dividi-la com o que ou quem for. Não quero partes do seu ser, mas o seu todo. Não admito compartilhamento senão por aqueles que vieram de você. Amo demais para me contentar com um outro pedacinho. Meu amor não tem vocação para mendigar, portanto, não se satisfaz com migalhas. Quero estar, participar, viver de cada momento seu. Quero estar nos seus olhos quando acordar e te ver dormir, embalando seus sonhos. Quero caminhar ao seu lado, num caminho cruzado, e não a margem de você. Quero te conquistar a cada dia, te fazer apaixonar por mim mais e mais a cada dia, te dar razões para continuar comigo a cada dia. Quero te mostrar que não só tendemos ao infinito, como podemos viver cada tempo desse infinito como se fosse o último. Só preciso que seja minha como eu já sou seu. Está na hora de acontecermos, sem brechas ou pausas. A minha casa é a sua casa, e entenda casa como meu corpo, minha vida, meus sonhos, meu destino...


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26/12/2012 - A minha estrada

A minha estrada está marcada com símbolos que desconheço. A minha estrada está professada nas cartas da cigana. A minha estrada está traçada no rastro dos cometas. A minha estrada está entrelaçada nos beijos dos poetas. A minha estrada está tomada por paisagens ainda não decifradas. A minha estrada está ponteada como viola. A minha estrada está tombada aos pés da santa.

A minha estrada está dobrada feito origami. A minha estrada está alongada de acordo com a minha imaginação. A minha estrada está cantada em preto e branco. A minha estada está curvada aos desejos sobre-humanos. A minha estrada está avermelhada de uma lua que não se vê por aqui. A minha estrada está cortejada por pássaros do estibordo. A minha estrada está forjada nas asas de um serafim. ...
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10/02/2016 - A moça da maré

A moça chegou cruzando pernas causando barulho de quem derruba toda a louça. Chamou a atenção, olhares e agitação. Provocou inveja, raiva e a imaginação. As pernas da moça como dois veleiros cruzando seus ventos num mar manso e traiçoeiro ao mesmo instante. E os beberrões foram bebendo por aquelas pernas, fazendo delas suas tabernas. E os ingênuos foram descobrindo formas pela arquitetura das pernas como se fossem gênios. Es os incrédulos com seus mundos pequenos encontraram credos profundos beirando à loucura. E o céu ficou pequeno para aquelas pernas de siri, de garça, de cegonha, que se recolhe, se encolhe e se esgarça cheia de graça. E nessa movimentação, a maré enche e vaza, as ondas se agigantam, os mares da solidão cantam, e a imensidão extravasa.


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25/07/2011 - A moça da televisão

A moça da televisão faz cena, não faz almoço, não rói pescoço, não limpa o chão. Ela só quer saber de nada fazer, de muito querer, de todo poder. Ela é dondoca, passa no cinema e nem come pipoca. Vive de dieta, mas não recusa cachê para beber coca. Ela vai às compras e não carrega sacola, pisa no mendigo e não dá esmola. Ela não gosta de futebol, mas pro jogador do momento ela dá bola.

A moça da televisão ora está namorando ora ficando ora casando ora separando, num vai e vem do coração. Ela não sabe o que quer, na verdade abusa da sua natureza de mulher. Não planta uma semente sequer, mas gosta de receber flores. Não gosta de sofrer, mas adora encenar uma mocinha às voltas com suas dores. Só admite fotos do seu perfil direito, mas pra certa revista se mostrou de todo jeito. ...
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27/04/2012 - A moça que perdeu as asas

Os olhos da moça se aninharam em pranto. O dia sequer havia amanhecido quando o espanto calou qualquer esboço de canto. Gaiolas, alpiste, poleiros e penas coloridas espalhadas pelo chão. Aquelas criaturas pequenas em tamanho e gigantes na magia que enchiam aquela moça de sonhos e desejos alados acabaram nas garras de um desses gatos da noite que não tem nome completo ou endereço fixo.

Não eram pássaros quaisquer. Tratava-se de um casal de agapornis, as aves do amor. Pássaros fiéis, amantes leais, que viviam eternamente apaixonados na fantasia do dia a dia. A moça que se imaginava com asas ficou sem céu. A moça que tinha a cabeça nas nuvens despencou de um arranha-céu. A moça que gostava de brincar de equilibrista, girava sem sair do lugar feito carrossel. ...
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03/05/2013 - A monotonia

A monotonia nos pega de jeito. A monotonia, quando se instala dentro do peito, ai, dá até mal-jeito no coração, que fica batendo sempre no mesmo refrão. A monotonia engessa a fantasia, quebra a perna do dia, dá mal-estar, tontura e azia. A monotonia é o pássaro que perde as asas, é o vento que deixa de soprar, é a praia de um mar sem ondas. A monotonia é rede que não balança, é romance sem beijo, é aventura sem risco.

A monotonia é um malfeito. A monotonia é o lugar comum mais estreito que há. A monotonia é a desvalia do que é ser vivo. A monotonia é o que não faz vibrar. A monotonia é fosca. A monotonia censura a criatividade. A monotonia é o pleno funcionamento da máquina da inutilidade. A monotonia é uma espécie de status quo do tédio. A monotonia nos rende, nos veda, nos cala, nos coloca no plano de fundo da vida.


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04/03/2008 - A mordida do leão

Rrrruuuaaa... rrrrrruuuuuaaaa! Com a abertura da temporada 2008 do Imposto de Renda (IR) pago por nós - os eternos contribuintes - coloco-me a pensar no leão. A sua mordida é famosa. Que o diga os 24,5 milhões de brasileiros que terão de entregar suas receitas tintim por tintim até o próximo 30 de abril. Cá com meus pensamentos, descobri que o governo tentou, com seus podres poderes, transformar o leão em um cachorrinho. No entanto, nem Roberto Carlos, o nosso rei, atreveu-se a cantar que algum leão havia sorrido para ele rugindo....
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16/11/2010 - A morte da mulher amada

Está consumado. (João 19:30)

A mulher amada não morre pela falência de seu corpo, mas de seu sentimento, ou melhor, do sentimento que carrega consigo. É como se o amor, tal erva parasita, tivesse usado o corpo dessa mulher como uma espécie de vaso. Chega um momento em que a planta se torna maior do que o vaso. Quando a planta é fraca, morre sem alimento ou ar. Mas quando a planta é forte, trinca e quebra o vaso, ganhando o mundo ao seu redor. Ao final de sua existência, que pode durar um dia, meses ou anos, a mulher amada está certa de que vive o seu fim. ...
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