Daniel Campos

Prosas

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11/06/2010 - A morte da prima-ballerina

As pontas tateiam mais tristes os palcos bailarinos pelo planeta Grand Plié. Pontas enlutadas pela morte de Marina Semenova, a eterna primeira bailarina do teatro Bolshoi. Quando ela brilhava num pas de basque a Rússia ainda era vermelha de União Soviética. Indiscreto, o capitalismo suspirava por aquelas sapatilhas comunistas. Para além da guerra fria, Marina do Lago de los Cisnes, de La Bayardère e de Giselle. Aos 101 anos, a bailarina russa, por mais uma vez, calou o mundo do balé. Por ela, ou melhor, pela ausência dela, o Bolshoi chorou. ...
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02/05/2011 - A morte de Bin Laden

A morte de Bin Laden não abalou a rotina de bilhões. A morte de Bin Laden não mudou a cor das flores do jardim. A morte de Bin Laden não estancou o choro das crianças com fome. A morte de Bin Laden não trouxe outros mortos de volta. A morte de Bin Laden não mudou o que os apaixonados sentem um pelo outro. A morte de Bin Laden não inventou outro gênero musical. A morte de Bin Laden não modificou as fronteiras dos países. A morte de Bin Laden não calou a saudade dos que sentem falta de algo ou de alguém. ...
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02/03/2010 - A morte de dois guardiões

Dois importantes guardiões foram chamados a deixar seus postos e, por conseqüência, esta terra sem memória. Walter Alfaiate e José Mindlin, guardiões do samba e dos livros, respectivamente, partiram deixando suas obras em vida. Para muitos, o primeiro era só um sambista. Para muitos outros, o segundo só um bibliófilo. Mas ambos iam além de rótulos ou aparências. Ambos eram patrimônios culturais de um país ainda não descoberto.

Um imenso abismo social separou Walter de José, dois homens travando, por anos e anos, a mesma luta: a sobrevivência da arte. Literatura e música ficam mais pobres com a falta desses dois estandartes de uma época. Mindlin doou sua imensa biblioteca, com mais de 40 mil volumes, a uma das mais importantes universidades do país. Já Alfaiate, que precisou exerceu a profissão que lhe deu nome desde os 13 anos para sobreviver, deixou suas canções às gargantas de Paulinho da Viola e outros bambas. ...
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14/07/2014 - A morte de quem se ama

Como se sentir depois de receber a notícia de que a pessoa que você mais ama na vida morreu? E receber essa notícia dela mesma? Uma morte tão inesperada quanto anunciada. Uma morte que você não quer e nem vai aceitar. Afinal, quem se conforma em perder seu grande amor? Saber que nunca mais vai poder tocar sua pele, sentir seu perfume, olhar no fundo de seus olhos e declarar o que sente seja por meio de prosa ou verso com toda licença poética. A certeza de que nunca mais vai ser possível lançar um eu te amo e esperar as reações dela consome até a última gota da alma. Nunca mais, essa expressão dói, cala, grita, faz chorar por dentro e por fora, sangra sentimentos em carne viva. Dar adeus todo dia a resquícios que ainda estão impregnados no cerne do afeto é dilacerador. A morte é declarada, mas ela não é finita. A morte de alguém que se ama é infinita. Cada dia ela morre um pouco mais e de um jeito diferente, trazendo dor e perdas diferentes. A lembrança em certos momentos desse luto é pior do que o esquecimento. Há fantasmas do que você poderia ter dito e não disse, do que poderia ter feito e não fez, do que poderia ter ouvido e não ouviu lhe apavorando o tempo todo. Porque a morte, como coloca uma pedra na possibilidade de continuação, levanta a todo e qualquer instante o “podia ter sido diferente se”... quando, na verdade, sabíamos que tinha de ser exatamente assim. A morte faz com que fiquemos nos enganando para sofrer menos ou mais dependendo da necessidade. A morte da pessoa amada nos martiriza, deixando-nos sozinho e nu com nós mesmos. Aliás, a morte desse amor infinito coloca em dúvida até mesmo a existência do amor. Sim, porque desde sempre acreditamos que os amores não morrem. Como se sentir depois de receber a notícia de que a pessoa que você mais ama na vida morreu? E receber essa notícia dela mesma? Rasgado. Apunhalado. Dilapidado. É como se uma bomba atômica acabasse com todas suas ligações neurais e você não pensasse em mais nada. Apenas sentisse a dor das consequências. E entenda conseqüências como estragos, vazios, destruições... E o pior é a solidão, tão sedutora quão indiferente, querendo brindar com você a cada instante o seu estado solitário. A morte da pessoa amada faz você se sentir o mais solitário dos seres. Nada do que for dito ou feito é capaz de lhe consolar. E que ninguém tente estancar seu choro. É preciso colocar pra fora para que essas feridas todas não se transformem em uma espécie de câncer sentimental. A sensação é de que era muito melhor ter morrido no lugar dessa pessoa, mas não havia motivo algum para você morrer antes dela. E pelo resto dos seus dias você vai se perguntar a razão de ela ter morrido de forma tão brusca quão bruta. Sim, porque a morte da criatura amada por mais que aconteça durante o sono é de uma brutalidade tamanha. E daí a fé em outras vidas se reforça, mas quanto tempo ainda será necessário esperar para o reencontro. Será melhor morrer logo para antecipar esse recomeço? São tantas dúvidas pairando sobre a morte da mulher amada, que não se sabe se foi natural, acidental ou criminosa. De fato, há sempre um crime palpitando numa despedida desse porte. Aliás, despedir-se de quem se ama de forma definitiva é algo que contraria a natureza humana. Os homens inventaram o fogo, a roda, o avião, mas não criaram uma forma de superar a perda. Como se sentir depois de receber a notícia de que a pessoa que você mais ama na vida morreu? Com um ponto final no lugar do coração.


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22/03/2011 - A morte, o que será?

Se deus é sinônimo de vida o que é a morte? A antítese divina? E quem é a antítese de deus? Lúcifer? Acho que não. Aquela figura lendária que vaga entre os moribundos com capuz negro e foice, ceifando a vida dos humanos está atrelada a deus ou ao demônio? Por que o criador iria matar sua criação? Não faz sentido. Por que o diabo iria matar sua fonte de pecado, se o inferno é vivido na crosta terrestre? Também não faz sentido. Será a morte o elo perdido entre deus e o diabo?

Quem ou o que é a morte afinal? Se a morte não é deus pode-se dizer que é tão antiga quanto ele, ou até mesmo que ela o precede na linha do tempo. E, sendo assim, deus e morte duas criaturas antagônicas, o todo-poderoso pode morrer. Difícil imaginar isso, mas há um duelo incessante entre a vida e a morte, entre o começo e o fim, entre a luz e a sombra. E perguntas não se calam: deus venceu a morte ao ressuscitar seu filho? O diabo compra almas para continuar vivo? ...
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05/03/2016 - A mula que leva o tempo

A mula que leva o tempo em seus jacás nunca empaca. Ela vem com um passo firme e passa por onde nem imaginamos ser possível chegar. A mula ataca ribanceiras, ladeiras, precipícios, indícios de impossibilidade, de irredutibilidade e de irresponsabilidade. Atente ao que faz com o seu tempo. Tente viver entre o amanhã e a saudade de um jeito totalmente diferente. Avance e não canse com as pedras. A mula que leva o tempo em seus jacás há de seguir independentemente das tormentas, do que venta, cai e troveja. Veja que a direção aponta para frente. Toda semente jogada na terra um dia há de brotar. E quando esse dia raiar sementerá um novo velho sempre tempo. O tempo que está em todo lugar, no alto céu, no fundo mar, nos jacás da mula que o leva, no magnífico ventre da semente que rasga, parte, escapole da casca dura como uma dura certeza – de que o tempo virá em completa beleza e que ninguém o segura porque o tempo é correnteza que tudo carrega e ninguém sossega.


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16/09/2014 - A mulher (indigna de ser) amada

A mulher amada não tem consciência de até onde ela pode chegar no quesito perversidade com quem a ama. Ela é capaz de matar lentamente só pelo prazer de ver o ser que é capaz de fazer tudo por ela prostrado, agonizando, sangrando. É como a gata que brinca com a caça antes de devorá-la. Ela sabe jogar como poucas mãos de ases. Sabe enredar, envolver, se vender em sentimento só para depois descartar sua vítima como uma viúva negra que mata mais por esporte do que por fome. A mulher amada não tem limite para fazer sofrer quem só faz amá-la. Tem a capacidade de colocar uma agulha venenosa no cerne de cada fraqueza de quem a ama. Ela fere onde mais dói. É especialista nisso. Ela brinca com o corpo, com a mente, com o coração que são a ela entregues. Não importa a ela respeitar, mas ser respeitada a qualquer preço. Sua “honra” vale mais do que qualquer história de amor. Tem crises de amnésia muito convenientes ao seu bem-estar. E sabe tirar uma desculpa da manga como ninguém. A mulher amada é o umbigo do seu mundo, nada é mais prioritário do que ela mesma. E ela age para isso o tempo todo – para satisfazer a si mesma sem pensar em quem vai ferir. Ah! A mulher amada tem o dom de ferir. Ferir com palavras e ações. E principalmente, ferir com sua omissão. Quantas expectativas depositadas na mulher amada e quanto ela concretiza? Ela só faz o que interessa a ela. O ser que a ama é usado, reusado e depois descartado sem o mínimo de compaixão. Ela sabe muitíssimo bem a diferença do ouro e do lixo, ah como sabe, não havendo qualquer desculpa para o seu modo de tratar. Quando ela trata a criatura que a ama como lixo é exatamente isso o que ela quer fazer. Ela conhece seu poder de destruição. Não importa o que você faça para ela, ela continua insensível ao que você sente, prova, demonstra... A mulher amada é uma pedra lapidada em matéria de beleza, mas que lhe apedreja como pedra bruta. É rosa que, quando quer, só se dá em espinhos. A mulher amada humilha para ser ainda mais superior, pois ela quer sempre estar acima do bem e do mal. A mulher amada não aceita leis, julgamentos, regras. A mulher amada faz tudo conforme sua vontade. A mulher amada é um poço de intenções secretas que só dizem respeito a ela. A mulher amada é o quinto inferno de Dante. A mulher amada quer conquistar, aumentar seu império, escravizar novos corações, ter o impossível aos seus pés, só para desprezar. A mulher amada vive o amor a sua moda, a moda que satisfaz única e exclusivamente a ela. O amor lhe é útil para trazer o que quer, na hora que quer, da forma que quer. A mulher amada tem a força de um exército. E é impiedosa como tal. Mata no calor da emoção ou a sangue frio em nome dela mesmo. A mulher amada se aproveita dos amores mais puros, do que lhe é oferecido com mais verdade, da entrega mais intensa e propensa ao infinito. É nesse terreno que ela gosta de semear sua ilusão mais desesperadora. A mulher amada adoece e enlouquece quem a ama, pois ela sabe se dar sem se dar. A mulher amada mancha a fé de quem acredita no amor. A mulher amada diz da boca pra fora que se coloca no lugar de quem a ama, pois ela jamais quer ter outra visão senão a dela. O egoísmo é sua principal qualidade. É como uma dessas deusas da antiguidade que quer seus fieis ajoelhados, adorando-a o tempo todo. Ela planta no íntimo de quem a ama a ilusão de que ama quando na verdade ela só sente amor por si. A mulher amada não ama ninguém a não ser ela. Ama receber elogios, ama ser cuidada, ama ser paparicada, mas não é capaz de oferecer nada em troca senão sua vaidade para ser alimentada. A mulher amada é uma farsa, mas tão bem maquiada, construída e orquestrada... Cuidado, a mulher amada não é de confiança, ela trai na calada da noite fazendo todo o amor que você dedicou a ela parecer uma grande tolice. Tolos, tolos os que deixam se envolver por essa mulher que se diz digna de ser amada quando na verdade é indigna do amor que lhe é destinado. A mulher amada é um câncer no coração apaixonado, que quando dá conta está batendo sem vida. Faça a biopsia no coração de quem a ama e achará nas entranhas desse tumor (benigno) maligno a identidade da mulher amada. A mulher amanda recebe amor e devolve solidão na mesma medida.


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18/06/2010 - A mulher amada e seus caminhos interiores

No interior da região oeste da mulher amada há um caminho lendário. Os apaixonados passam por este caminho levando nas costas pesados fardos de sentimento. Para conquistar o amor dessa mulher é necessário enfrentar essa trilha cheia de intempéries. Uma trilha escondida, íngreme e escorregadia. O relevo da mulher amada é o resultado de anos e anos de monções diluvianas. É preciso medir os passos, se agarrar em esperanças e até mesmo voar para não cair nos precipícios da mulher que é um verdadeiro desfiladeiro de sonhos e paixões. ...
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04/05/2010 - A mulher chopiniana

Em homenagem à Chopin, um certo deus pianista criou a mulher chopiniana. Sem dúvida, uma das mais imaginativas incursões pelo mundo do compositor, tanto no plano estilístico quanto emocional. Uma mui digna criação. Diante dela, nossos ouvidos são imediatamente capturados. Cada nota vinda de seu corpo vale um disco inteiro. É belíssimo acompanhar o balançado dessa mulher na Polonesa em lá bemol maior.

Virtuosística e irresistível, a mulher chopiniana é puramente sonora. Ela consegue reescrever Chopin em atos e desacatos seus construindo em si novas obras de arte. Olhos e bocas, braços e pernas, seios e coxas, cabelos e pés, fronte e nádegas vão se desenhando em linhas melódicas e harmônicas. Ela não nega, tampouco afirma Chopin. Apenas faz dele sua identidade. E é válido lembrar que o compositor polaco viveu a era romântica das artes. ...
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16/10/2010 - A mulher de Damasco

A mulher de Damasco não é uma mulher fruta rica em fibras, com poucas calorias e que se oferece de forma seca ou fresca. Pelo contrário, a mulher de Damasco guarda em si o sal e o amargor de milênios de conflitos por território, liberdade e religião. Encontrar o doce da mulher de Damasco é uma tarefa difícil e perigosa, que pode levar o aventureiro à morte. Afinal, a mulher de Damasco fica 680 metros acima do nível do mar e é cercada por desertos e cordilheiras. Para conquistá-la é preciso muito suor, além de resistir ao clima semi-árido que ela impõe aos seus supostos conquistadores. Além disso, ao invés de um céu azul mediterrâneo, a mulher de Damasco é sempre envolta de uma estranha neblina, nublando atos e pensamentos alheios....
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