Daniel Campos

Prosas

Ou exibir apenas títulos iniciados por:

A  B  C  D  E  F  G  H  I  J  K  L  M  N  O  P  Q  R  S  T  U  V  W  X  Y  Z  todos

Ordernar por: mais novos  

Encontrados 3193 textos. Exibindo página 203 de 320.

O óbvio dos corações

"Bate outra vez, com esperanças o meu coração", este verso de Cartola vai além do óbvio. Nelson Rodrigues dizia que a graça da vida está no óbvio, mas não existe nada mais óbvio do que irmos além dele próprio. Perdão pela redundância. A vida parece não nos seduzir se for de uma obviedade descarada, se for certa demais, calculada ao extremo, consumada de acordo com nossos prognósticos... Por isso, o encanto está em descobrir as obviedades da vida. Parece simples, mas para realizarmos esse feito temos que ir para os confins dela, olhá-la de fora como um estranho e só então voltarmos a ela....
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

21/04/2008 - O padre voou

Desde criança, temos a impressão de que padre é uma criatura mágica. Padre usa vestido, mora na igreja, fala todo dia com Deus. Isso, e mais um pouco, é o que passa na cabeça dos pequeninos. Quando crescemos, essa magia ganha outra conotação, mas não deixa de existir. Eu, por exemplo, sempre me assustei com o silêncio que rodeia a vida paroquial.

Ao contrário de ficar ouvindo rádio, assistindo televisão, conversando com os outros durante a maior parte do dia e ficar recluso, durante alguns míseros minutos, em oração, os padres ficam em silêncio durante a maior parte do tempo. Se você já entrou em alguma igreja para fazer uma hora santa, sabe o que tento dizer com essas linhas. O silêncio sacro é algo que grita em nossa alma. Traz alívio e inquietude ao mesmo tempo. É difícil imaginar-se padre, cercado pelo mistério do silêncio....
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

23/06/2008 - O país da inércia

Considero Caetano Veloso uma das figuras mais inteligentes do nosso tempo, seja como músico, letrista ou provocador. Provocador? O que dizer de alguém que, cronologicamente, cria um movimento chamado Tropicália, revolucionando a forma e o conteúdo da MPB; que canta o funk "Um Tapinha não Dói" em seu show para fazer crítica social ao falso moralismo vigente na sociedade e assina um movimento contra as cotas raciais só para incentivar o debate. Caetano não gosta de nada pronto, de nenhuma decisão arrumadinha, de andar de acordo com a maré. Ao contrário, é daqueles que sai sem lenço e sem documento caminhando contra o vento. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

07/02/2012 - O pássaro e o avião

Não há pássaro mais sem graça que o avião, que voa sem bater as asas. Aquela movimentação curvilínea das asas é o que rende a coreografia ao pássaro. O voo rígido e mecânico de um avião está longe de permitir um balé nos céus. Além disso, o avião não faz ninho, tampouco migra de acordo com o clima. O pássaro de aço é estéril e não se relaciona com seus pares. Leva pessoas, mas não se leva para lugar algum. Aliás, não tem destino próprio. É um escravo sem direito a nome. É chamado por siglas e números. Não troca penugem, tampouco se apaixona. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

31/05/2010 - O pingado e a mulher

A coloração da mulher amada é complexa como o prisma que filtra o leque de cores primárias, secundárias e terciárias; ampla como uma caixa de 48 lápis de cor aquarela nas mãos de um menino; e, ao mesmo tempo, simples e mágica como um pingado. Um copo de café com um pingo caudaloso de leite. A mulher amada é uma presença constante em nossa vida, seja em matéria de utopia ou realidade. É um sabor cotidiano como um bom pingado. E como o tradicional copo americano no qual é servida a bebida, não se quebra com facilidade. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

11/04/2011 - O pintor de poemas

Quem é aquele homem que pega uma lata de tinta e um pincel e sai escrevendo versos, estrofes, poemas inteiros pelas ruas, pelas calçadas, pelos muros, pelas árvores, pelas janelas da cidade. Será de carne? Será que tem nome? Será que está sóbrio? São liras de poetas portugueses, chilenos, ingleses, russos, franceses se misturando naquela tinta grossa que ora é vermelha ora é azul ora é amarela aquarela. Coloca rimas perfeitas ao norte e rimas livres ao sul como se quisesse dizer alguma coisa nas entrelinhas... ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

29/02/2016 - O povo

O povo fala que isso e aquilo, cantando igual grilo. O povo inventa, aumenta, atenta. O povo conta com o ovo antes da galinha. O povo bisbilhota com alma de vizinha. O povo futrica, leva e traz, se beija e não se bica. O povo dá o braço, mas não dá a mão. O povo quer sim, outro sim, e mais um sim, mas só fala não. O povo alfineta, não se aquieta, fala mais do que profeta. O povo prevê e não crê. O povo atormenta, provoca e não aguenta. O povo dá língua, dá íngua, dá mingua. O povo se busca e não se encontra. O povo se afasta e não se dá conta. O povo quando apedreja tem braços de polvo. O povo golpeia, enteia, machuca e ainda quer açúcar. O povo inveja, esperneia, troveja e dá às costas. O povo devora o sonho do outro, não dá nó solto, e nem chora ao servir o coração do outro em postas. O povo seduz, induz, conduz e depois corre. O povo se joga e não se socorre. O povo finge, mente, promete e não age diferente. O povo nasce, vive e morre cuidando da vida alheia. O povo caminha de duas pernas, mas na verdade serpenteia.


Comentar Seja o primeiro a comentar

20/10/2009 - O presidente, o horário e o verão

Presidente, eu não sei se o senhor reparou, mas a última segunda-feira foi um dos piores dias de crise de todo o ano. Crise de sono. A força da preguiça superou em muito a força de trabalho da nossa gente. Houve uma tremenda invasão de olheiras pelas ruas. Muita gente acordou atrasada, saiu de casa sem tomar café numa correria danada, aumentando o índice de famintos e o número de acidentes de trânsito. Pudera, o relógio é impiedoso. O primeiro dia útil do horário de verão foi caótico. E pior, nem é verão. É primavera. É primavera com chuva de inverno e vento de outono. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

01/01/2017 - O primeiro dia dos outros dias

Hoje é o primeiro de outros dias únicos. Que seja o primeiro dos dias de luz e luminosidade que carecemos. Dias de fartura de amor. Sim, que o amor seja farto em todas as suas formas de amar. Que hoje seja o início de dias encantados, cheios de encantamento e encantaria. Dias de magia. O mundo anda carente, ausente de magia. Então, que o ser-mágico desperte em cada um.

Que sejam dias de chuva, chuvas de estrelas, pólens e poesia. Que sejam dias de mais dança, de mais musicalidade, de sonhos e esperança se realizando. Que venham dias de movimento, dinâmicos e imprevisíveis. E que esses dias saiam dos nossos planos, pois a verdadeira felicidade está no que não se espera. Que sejam dias de entrega, pois é doando que recebemos tudo o que queremos. Que sejam dias de altas conexões com o universo, com essa energia que está em tudo e em todos. ...
continuar a ler


Comentários (1)

09/04/2015 - O que brotará?

Dói pensar no que não mais há de ser vivido por nós. A bifurcação dos caminhos, optando-nos escolher entre a ilusão e os espinhos. Cubra-se com lençóis para não ver a tempestade perene ou se entregue à fervura deixando-se encher pelos molhos da vida como se fosse um penne. A paixão não tem cura nem explicação. Jura agora, ora pois, e depois chora por nós dois. É melhor ir embora enquanto é tempo ou ficar para ser devorado pelo sentimento? Eis a questão, a problemática que divide opinião. Se a vida fosse matemática uma mais um dava dois. Mas não há exatidão quando o regente é o coração, mocinho e vilão da nossa história. Depois do abismo será que vem a glória ou ficaremos imersos, submersos, controversos num espaço sem memória? Haverá para sempre uma semente proeminente de esperança ou a deusa da espera também cansa? Até onde vamos chegar ou chegarão com nós sendo assim tão iguais quão diferentes como uma prateleira de retrós? Por mais que doa é preciso desbrotar para crescer. As mulas do destino arrastam arados preparando a terra que mais cedo ou mais tarde nos engolirá. Resta saber o que resistirá e, o que sucumbirá e o que brotará disso tudo que fomos nós.


Comentar Seja o primeiro a comentar

Primeira   Anterior   201  202  203  204  205   Seguinte   Ultima