Daniel Campos

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Encontrados 278 textos. Exibindo página 4 de 28.

09/09/2015 - O amor de Glória e Tarcísio

Glória Menezes e Tarcísio Meira são ícones, lendas vivas, que transcendem o nosso dia a dia tanto como artistas quanto como namorados. Com oitenta anos de idade, mais de cinquenta de profissão e de carreira, o casal enche os olhos de qualquer um que se rende à arte do sentimento. É bonito de se ver. Os dois juntos fazem de qualquer canto em que estejam um palco de afeto, de cumplicidade, de querer. De se querer além do tempo. Ao longo dessa estrada conjunta, a beleza mudou, mas os dois ainda se olham com o mesmo encanto, como se descobrissem a cada minuto um novo motivo para se reapaixonar um pelo outro. Assim como um espetáculo teatral em que a cada nova apresentação há um detalhe, uma emoção, um quê diferente, o relacionamento dos dois vai se aprimorando e ganhando novos contornos a cada novo dia. Os cuidados, as trocas de carinho, as admirações cruzadas arrancam aplausos dos corações alheios. Não há posse, mas compartilhamento, como se fossem continuação um do outro. Enquanto muitos andam por aí querendo um casamento de celebridade, um amor pop-star, uma relação iluminada por holofotes, Tarcísio e Glória vivem um ato sentimental baseado na simplicidade e na espontaneidade. Uma aula não de teatro, mas de vida a dois. ...
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28/06/2015 - O tempo de seu Antônio

O tamanho, a careca e a simpatia não intimidavam ninguém, mas o olhar firme era capaz de colocar qualquer um pra correr. Os olhos de seu Antônio Bueno de Campos chegavam a gargalhar junto com ele em suas piadas, mas quando se impunham metiam mais medo do que suas histórias de assombração. Muitas vezes, sentado numa cadeira de ferro com tecido esticado, quando me perguntava das notas da escola chegava me dar um frio na barriga. Para minha sorte, sempre trilhei pelas notas azuis. Suas perguntas eram incisivas, feitas repetidas vezes, até que ele se convencesse da resposta. E era melhor não levar problema ou preocupação alguma para ele, pois aquilo não saia de sua cabeça e volta e meia rendia prosa. Era o jeito de ele cuidar da família, de tentar proteger aqueles que ele fazia questão de estarem por perto. Queria cada um cuidando de sua vida, mas a uma distância em que ele pudesse acompanhar. Eu, falando em sorte novamente, tive a oportunidade de pegá-lo mais manso pela velhice. Mesmo assim, tinha uma rigidez, um gosto de ver tudo e todos na linha. Não me lembro de tê-lo visto chorando. Suas lágrimas eram secretas e por escorrerem sempre para dentro foram dando aquele caráter de diamante aos seus olhos: encantadores, mágicos, mas duros. Fruto da criação bruta, por muitas vezes ter sido tratado feito bicho e terem roubado muito do seu futuro. Seu Antônio sempre precisou acordar dia após dia para sobreviver, para dar conta daquele dia. Os dias futuros não importam. Por mais que apreciasse uma viola, uma sanfona, uma roda de catira, seus parceiros de dança tinham de ser a enxada, o machado, as guias do arado puxado por boi. As esporas de uma vida sem regalias lhe deixaram marcas profundas que o faziam, a todo custo, querer que tivéssemos um caminho melhor que o dele. Estudou quase nada, mas via na nossa educação a certeza de uma vida que ele não teve. Ainda guardo até hoje a alegria daqueles olhos de me verem formado em Jornalismo. Tinha orgulho do meu caminho, dos meus feitos. Foi ele quem me deu o meu primeiro e único violão. Foi ele quem me dava público seja levando seus passageiros para verem meus quadros expostos nas paredes de casa ou carregando minhas crônicas, publicadas no jornal da cidade, para suas praças. Aqueles olhos fundos viam em mim o que ele não pode ser e, por mais contentes que estivessem, continuava com aquele quê de dureza para que eu não me perdesse. Aquele homem de aparência frágil, sempre vestido com mais blusas do que o necessário para espantar o frio acumulado em tantas noites passadas na lida dentro de um carro ou na boleia de um caminhão e de sandálias de dedo demonstrando claramente que ele precisava de tão pouco, sempre quis o melhor para mim. E, na cabeça dele, esse melhor era justamente um caminho diferente do dele. Nunca teve estia em sua jornada. Capinou. Carregou, descarregou, voltou a carregar caminhões de lenha. Tocou boi. Arou. Rodou pelas estradas e pelas memórias de muitos. Um dos principais passageiros do seu táxi era o ontem. Seu Antônio quase nunca falava de futuro, sempre nos contava sobre o que já tinha passado. É como se ele, tão direito com as regras de trânsito, insistisse em ir pela contramão da vida. Remoía incontáveis vezes histórias que eram suas ou que pegava emprestado. E contava sempre todas elas com muita riqueza de detalhes. Era navegando no mar de suas histórias que ele rompia com sua realidade que não lhe permitia ousar. Comia praticamente o mesmo arroz branco com frango frito todos os dias. Dormia assim que o dia escurecia e acordava de madrugada e ficava ouvindo modas caipiras num radinho até o dia amanhecer. Sentava no banco do jardim e ficava por horas olhando o movimento dos passarinhos que vinham se refestelar num bebedouro. Ia para suas praças, a do ponto de táxi e a de caminhada, perto de sua casa, tentando fazer o dia passar. Por isso, as histórias vividas por ele de forma direta ou não, faziam-no romper com sua rotina e navegar num oceano de sensações, de impressões, de exclamações. Tornou-se um exímio contador de histórias. Para ele, cada detalhe precisava estar no seu devido lugar de forma da muito da bem feita para que a narrativa alcançar o seu resultado. Colocava tudo no seu lugar, seja cada peça do quebra-cabeça do acontecido, seja cada parafuso que ele achava perdido na rua, seja cada engrenagem dos relógios que ele montava e desmontava com precisão cirúrgica. Perdi a conta de quantas vezes o vi as voltas com seus relógios de pulso ou de bolso. Dava corda, limpava, consertava, acertava a hora. Só se esquecia de dar corda em seu tempo interior que, aos olhos daqueles que não sabiam o compreender, estava sempre atrasado, marcando o ontem, o anteontem, o trasanteontem...


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27/06/2015 - O seu hoje

Hoje os pássaros são todos seus. Hoje quem já foi, volta para ter você nem que seja por um segundo a mais. Hoje a arte é sua. Hoje toda parte é sua. Hoje até Marte é sua casa. Hoje você ganhou o mel das abelhas. Hoje você ganhou o véu das centelhas. Hoje você ganhou o céu das ovelhas. Olhe você ganhou asas e um coração em brasa. Hoje as ruas são suas passarelas. Hoje, para você, abrem-se todas as janelas. Hoje o príncipe que você escolher vai te chamar de donzela. Hoje o mundo se faz mais doce por você. Hoje os olhares se voltam todos para você. Hoje os querubins oferecem suas flechas para você. Hoje estrelas e mais estrelas te são entregues por um deus apaixonado em forma de buquê. Hoje todo e qualquer adeus perde o seu porquê. Hoje há uma multidão de poetas procurando por você. Hoje há um turbilhão de almas inquietas esperando por você. Hoje há um tempo de paixão nascido para você.


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17/06/2015 - O drama do cacto

Sem amor, sem carinho, sem ninguém, sozinho. Assim é o dia do cacto, cujos espinhos fazem seu pacto com a solidão. Quem tem um coração de cacto vive no sertão do sentimento. Espera-se por chuva, mas a chuva não vem. Reza-se por milagre, mas milagre não tem. Deseja-se até a morte, e da morte não se fica sem. Mas a morte do cacto é todo dia, nos partos dos espinhos, na certeza do viver sozinho. A boca do cacto machuca o vinho. As mãos do cacto não tocam o pinho. O corpo do cacto desfia o linho. O cacto não vai além do cacto. Seja semente, fruto ou flor é cacto. É o pacto permanente com a solidão. Sem amor, sem carinho, sem redenção. No cacto aranha não se atreve a fazer teia. O coração do cacto nem sol do deserto clareia. O cacto queria ser pássaro, ser gado, ser areia, mas é cacto e do cacto o espinho não apeia.


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15/06/2015 - O sol se põe

O sol se põe num lago e não se apaga. O sol se põe por entre prédios e não se estreita. O sol se põe numa cova e não morre. O sol se põe num copo e não tropeça em estrelas. O sol se põe na lua e diz que não se entrega. O sol se põe num vestido e não é chamado de atrevido. O sol se põe no mar e não se salga. O sol se põe na curva e deixa a estrada mais ruiva. O sol se põe na corcova do dromedário e não se entorta. O sol se põe nos cabelos da mulher e por ali se esconde. O sol se põe numa tatuagem e não faz mais parte da paisagem. O sol se põe num violão e transforma a canção. O sol se põe num aquário e o peixe fica dourado. O sol se põe no roseiral e não se espinha. O sol se põe na cama e não dorme. O sol se põe na televisão e mesmo assim não faz programa. O sol se põe na figueira e não vira fruto. O sol se põe à francesa e enfrenta a escuridão a sua maneira. O sol se põe no abajur e vela a noite de quem o chama. O sol se põe no tempo e não fica.


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12/06/2015 - O amor não se apaga

Antes, tinha medo de perder quem amo. Hoje, sei que o amor nunca se perde. As pessoas, que estão ligadas por esse amor, podem se desencontrar, se separar, se afastar, por alguma ou outra sorte da vida ou ainda pela morte, mas esse sentimento permanece vivo. O amor está além do corpo físico, da matéria palpável. O amor é energia. Somos responsáveis pelo nascimento e crescimento de todo e qualquer sentimento, porém, nunca há total controle da nossa parte sobre ele. Ninguém apaga, deleta, corta, queima, rasga, anula um sentimento verdadeiro. O amor se transforma porque é dinâmico. Adapta-se porque está, como nós, em constante evolução. Multiplica-se ou divide-se dependendo de uma determinada situação. Pode parecer, aos nossos sentidos, mais forte ou mais fraco. No entanto, o amor, uma vez nascido, está sempre aí. Por mais que jurem que certo amor está morto é preciso considerar que mesmo as pessoas que morrem continuam existindo de uma forma ou de outra. Para nascer, um amor depende de energia. Na maioria das vezes, do encontro de duas energias vitais. Mesmo que essas pessoas que doaram essa energia deixem de ter qualquer relação amorosa e até batam o pé que não sentem mais nada essa energia continuará vagando pelo universo. Embora aparentemente nascido na terra, o amor nosso de cada dia tem algo de estelar, pois mesmo quando declarado “morto” sua luz continua sendo vista e sentida. ...
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10/06/2015 - O tempo é o meu lugar

São anos e anos tecendo e trançando linhas de destinos, de prosas, de papagaios. Anos e mais anos semeando pelo ar, revirando a terra e as nuvens. Sou lavrador de sentimento. Aprendi a língua do vento, que me conta histórias de acordar e de ninar. Sou árvore. Sou rio. Sou chuva. Sou raio. Sou pássaro. Tenho sangue e seiva bombeando meu coração que dá sementes, letras e asas. Sou nascido do ventre da imaginação. São anos a fio mergulhando de corpo, alma e espírito em paixões, escritas, temperos, paisagens... Ao longo dessa estrada, muitas chegadas, sejam bem-vindas, e algumas partidas, pelas quais eu choro ainda. Tanto conheci sobre o mundo, exterior e interior, indo a fundo. Amei, amo e amarei, pois sou forjado no amor. No amor sem limite. No amor incondicional. No amor convicto. A intensidade é a minha verdade. São anos e anos flertando com o tempo. Entrego-me. Doo-me. Voo a outras dimensões. Como ribeirão eu vou. Como mar, eu volto. As minhas lembranças alimentam a minha esperança. Sou criatura que não se cansa de se apaixonar. O tempo é o meu lugar. ...
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28/05/2015 - O íntimo e o ínfimo

Quem disse que eu preciso de tudo isso para viver, para ser alguém ou ser feliz? Eu já me desfiz dos meus discos, cds e vinis, mas Chico, Tom, Bethânia, Cartola e outros tantos mais ainda seguem comigo. Doei meus livros, obras inteiras de Drummond, de Pessoa e Vinícius, mas eles continuam impregnados em mim como vícios. Distribui meus sapatos, caixas e mais caixas, pois não tenho pés suficientes para realizá-los e por aí hão de encontrar alguém para amá-los para além de apertos e calos. Rasguei e queimei álbuns e mais álbuns de fotografias, pois as lembranças como poesias vivem em minhas andanças. Eu fui me desapegando das crianças que brincavam em meus labirintos e hoje nem jovem nem adulto nem velho eu me sinto. Sou só o que sou, nada aquém nada além. Como as cigarras, deixei tantas cascas presas pelas árvores do tempo. Como camelão, mudei de cor, mas não mudei de sentimento. Sonhos se perderam, se realizaram, se conformaram, se esqueceram... Um sorriso precisa ir embora para outro chegar. Desisti de ter uma coleção de obras de arte, pois muitas vezes é melhor ter a parte ao invés do todo. Os pés que não pisam os céus nunca deixam o lodo. E a fé me revela que o senhor tem seu templo em meu íntimo. A acumulação do que quer que for nos faz ínfimo. O que você não usou hoje, alguém poderia ter usado. Liberte de si tudo o que precisa ser libertado.


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06/05/2015 - Ouça os pássaros

Ouça, ouça os pássaros. Eles trazem mensagens de mundos distantes. Ouça os pássaros que não passam por acaso. Eles cruzam nossos céus, pousam em nossas janelas, passam sobre nossas cabeças, dependuram-se nas árvores do nosso quintal por alguma razão. Ouça os pássaros, aprenda a decifrar cada canção. Pássaros são mensageiros de outros reinos e tempos falando a língua do sentimento. Aos seus estralos, calo para ouvir, ouvir os pássaros. Ouça, ouça o que dizem, revelam, querem contar. É muito mais fácil ouvir os homens, mas os homens não sabem voar. Ouça, ouça os pássaros e você só terá a ganhar. Entrega-se à melodia da passarada que faz revoada para seguir a estrada como seguem as constelações. Ouça sem resistência, sem porquês, sem senões. Ouça, ouça os pássaros que falam diretamente aos corações. Abra os ouvidos e as entranhas ao que diz o pássaro e seja feliz, pois o pássaro que vem é o que você merece, traz o que na hora lhe convém, jamais o que quer ou quis. Ouça, ouça os pássaros cujos estralos dobram qualquer aço e orientam seu compasso.


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22/04/2015 - O galo do dia

Galo cantou alumiando o dia. Gato roncou no telhado português. Poeta cantou sua poesia pro cachorro maltês. O jornaleiro queria falar de amor, mas amor não vende jornal. O carro não pegou de primeira e diante da ladeira quem é que empurrou? O vento o passado não carregou. E o profeta professou tanto que santo de casa não faz milagre quanto que até o melhor dos vinhos pode virar vinagre. A menina pediu fé. O menino pediu mulher. O galo sem saber qualé cantou puxando o dia que não queria sair da toca. A lua provoca de baby-doll transparente, inocente, envolvente... O cego de paixão tropeça procurando suas lentes. Por entre estrelas atrasadas há dança de salão, dança do ventre, dança de corpo presente. Dizem amém e ah nem com a mesma força. O choradeiro de quem perdeu um amor de verão fez uma poça no meio do estradão. Clareia, mas pela cidade já não passa mais boiada, não tem mais café na cama pra namorada, não se toca mais o sino pra chamar pra benção do galo. O galo já desistiu de se maestro do dia e anda atrás de uma galinha que só quer sabe de encher sua moela. Enquanto isso, o dia, sem freio ou esteio, desce na banguela...


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