Daniel Campos

Prosas

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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 180 de 320.

06/12/2011 - Eu, cegonha

Como cegonha, vou voando e levando um amontoado de filhos presos em meu bico. Meus rebentos são feitos de palavras. São contos, são poemas, são crônicas, são romances que eu carrego comigo por onde for. Muitos se espalham pelo vento, chegando assim a olhares desconhecidos. Porém, ao primeiro assovio, eles já estão todos ao meu lado novamente. São narrativas crianças armando um berreiro. São versos meninos brincando de rimar. São sentimentos que nascem herdando as minhas asas e a minha vontade de voar cada vez mais alto. ...
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05/12/2011 - Conquistado mais

Eu devia ter conquistado mais. Mais espaço. Mais micros e macros espaços. E também mais tempo. Mais tempo psicológico, sobretudo, pois o tempo físico é limitador por natureza. Eu devia ter conquistado mais lembranças, posto que são as lembranças que movem o homem. Ah! Conquistado mais sorrisos e prantos alheios. Um castelo se faz com fiadas alternadas de alegrias e tristezas. Se eu tivesse conquistado mais perdões não estaria mendigando clemência.

Mais e mais de tudo um pouco é o que eu devia ter conquistado ao longo desses anos de guerra. Mais e mais canções. Mais e mais lirismo. Mais e mais sementes. Mais e mais partos. Mais e mais paisagens. Mais e mais comida. Mais e mais prazer. Mais e mais ânimo. Mais e mais paredes. Mais e mais olhares. Mais e mais passos. Mais e mais bocas. Mais e mais luas. Mais e mais encantarias. Mais e mais detalhes. Mais e mais vidas e sobrevidas. ...
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04/12/2011 - Saudade infinda

Ah! Que falta me faz sua presença física, seu Líbio. Desde sua morte, ò meu avô, estou sem rumo certo, sem chão firme, sem sentido algum. É como se meu mundo, feito um castelo de cartas, viesse ao chão numa ventania. Devo confessar que até hoje eu não consegui juntar as cartas. Sem sombra de dúvida, o meu reino por um abraço seu. Um abraço de carne e osso. Meu deus, como é difícil tocar a boiada da vida sem tê-lo ao meu lado. Muitas porteiras se fecharam para mim depois da sua partida. E a saudade machuca mais do que arame farpado. Mesmo depois de tantos meses ainda consigo sentir seu perfume, escutar sua voz, adivinhar seus pensamentos. ...
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03/12/2011 - Quem sou?

Quem sou eu? Sou alguém que não vale nada. Não valho seu dinheiro, seu tempo, sua atenção. Não valho sua insônia, sua fome, sua piedade. Não valho seu olhar, seu gostar, seu falar. Não valho seu corpo inteiro ou sua alma pela metade. Não valho o céu que está lá fora ou o rio que corre longe daqui. Não valho o canto dos pássaros, a luz da lua ou a dor de um parto. Não valho o suor, a seiva, o sangue de ninguém.

Não valho uma gota sequer de orvalho. Não valho um telefonema, um dilema, um poema. Não valho uma sílaba ou qualquer coisa que saia da sua boca ou da sua mão. Não valho sua chegada, tampouco sua partida. Não valho seu hoje, seu ontem e certamente não irei valer seu amanhã. Não valho seu sonho nem seu pesadelo. Não valho sua promessa ou sua reza barata. Não valho o buraco, a cachaça, o oráculo. ...
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02/12/2011 - Mais sobre a mulher amada

A mulher amada foge das premissas mais básicas do mais básico amor. De insípida, de inodora, de incolor essa criatura não tem nada. Em sua boca, notas ácidas, doces, amargas e picantes se misturam e se individualizam e se sobressaem. Embora intensa, a mulher amada é de uma leveza capaz de andar sem tocar o chão. Seus lábios, vermelhos como hibisco, trazem toques de tâmara, gengibre e patchouli.

Pelas entranhas da mulher amada, hortelã, menta, flor de laranjeira, amora. Uma fonte de aromatização capaz de inebriar os mais céticos. Seus olhos contêm flores in natura e pétalas em infusões. Alma cítrica, doce como laranja lima ou suave como limão siciliano. Uma alma a ser bebida sem pressa. Confere sabor, refresco e energia a quem a bebe. E o que dizer de seus cabelos de erva-cidreira, açúcar e mel? ...
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01/12/2011 - Anti-sonho

Quando eu vim não sabia o que eu ia achar. Não sabia o que continuaria ou não em mim. Tudo era segredo. Tudo era às escondidas. Nem mesmo a minha lua interior se mostrava por inteira. Eu era estrangeiro na minha terra. Eu era prisioneiro do mundo que sonhei. E o sonho não veio da forma que imaginei. Tudo ficou pelo avesso. Tudo ficou pela metade. E não há mais dúvida de que deus escreve errado por linhas tortas com uma letra porca.

O sabor das coisas amargou. A cor do amanhã desbotou. O destino mudou. Até a esperança tem outro corpo, outro cheiro. Nada mais é como era antes. O céu, o chão, tudo se modificou. Até o meu papel na vida ganhou outra conotação. Houve inversão de valores, de pesos e de sentimentos. Hoje caminho na contramão da minha fantasia, sendo quem eu nunca quis ser. Fugi, fugi, fugi até não ter mais saída. ...
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30/11/2011 - Mundo peçonha

Sem conseguir vislumbrar o horizonte, sigo de arrasto como serpente por esse chão áspero e pedregoso. Serpenteio movido não por sangue, mas por veneno. Veneno alheio. Minhas presas estão sempre preparadas para o pior. Provoco gritos, alvoroço, pavor. Não tenho piedade ou compaixão. Afinal, forjaram-me assim. Não sou víbora porque quero, mas porque preciso. Não tenho saída. É a maneira que encontrei para continuar vivo, ou melhor, sobrevivo. Porque cobras não vivem, sobrevivem.

Serpentes não desfilam, seguem camufladas, escondidas, sorrateiras. Sigo me arrastando por ali e por aqui como sinal de castigo. Sou culpado por um pecado que não é meu. Porém, pertenço a uma raça condenada ao sofrimento. E é preciso ter cuidado com todos, sem distinção, quase não há diferença entre uma cobra coral falsa e a verdadeira. Não tenho pernas, ao menos não pernas visíveis aos olhos cotidianos. Aliás, meus sentimentos, meus desejos, meus quereres também são invisíveis... ...
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29/11/2011 - Longe deste mundo

Longe deste mundo há outro mundo mais profundo para se viver sem medo. Um mundo onde o amor não seja considerado um ato vagabundo, tampouco quem ame seja cacundo de suportar tanta dor. Um mundo bem mais fecundo de sonho e prazer, onde as alegrias brotem pelas frestas como ervas daninhas e onde a realização se prolifere como coelhos jacundos em véspera de Páscoa. Um mundo sem submundo.

Longe deste mundo existe outro mundo bem mais fundo para se jogar de corpo e coração. Um mundo onde o gostar não seja um pecado imundo, mas um verbo sagrado praticado por deuses e demônios com a mesma intensidade. Nesse outro mundo a solidão desaparece num nanossegundo como num truque de mágica. Ninguém de lá é iracundo e tudo lá é oriundo do bem-querer entre criador e criatura.


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28/11/2011 - Os ares de Ayres Britto

Ares verbis, ares movimentu, ares juris et de jure. Ar, Ares, Ayres Britto. Ar manso e revolucionário, vento, ventania, vendaval de ideias e ideais, de versos métricos e livres, de quadras e sonetos, de abstrações e anotações. O gabinete do jurista-poeta ora é biblioteca viva ora sala de recepção onde leis, capítulos, versículos, artigos, personagens reais e fictícios bailam pelos ares de Ayres. A fala envolvente no contexto dos gestos desenhando textos no ar e nos ares de Ayres Britto.
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27/11/2011 - Não pense

Se você tiver vontade, atire-se de corpo inteiro. Se você tiver medo, feche os olhos e siga. Se você chorar, fuja para o primeiro sorriso que encontrar. Se você cair, mude o olhar das coisas e encare o chão como se fosse o céu. Se você sonhar, sonhe sempre por dois, por três, por mil. Se você cantar, cante na língua dos pássaros. Se você se perder, ao contrário de tentar achar o caminho de volta invente outro destino. Se você sentir amor, ame até a última gota do seu juízo.

Se você quiser partir, caminhe sem deixar rastro. Se você quiser casar, antes de qualquer coisa, doe um pedaço seu. Se você quiser beber, que cada garrafa seja um brinde. Se você quiser conversar, as nuvens têm ouvidos aguçados. Se você quiser acreditar, há um anjo em cada esquina. Se você cansar da caminhada, imagina que logo mais à frente vive um sonho bom pronto para ser vivido. Se você pegar no sono, viaje pelo mundo inconsciente que lhe habita. Se você perder tempo, o tempo vai perder você...


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