Daniel Campos

Prosas

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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 218 de 320.

30/09/2013 - Outro tempo

Eu queria ter chorado no Olympia com Edith Piaf. Eu queria ter bebido um uísque, ao menos um uísque, com Vinícius de Moraes. Eu queria ter aplaudido Paulo Autran, olhos nos olhos, de pé. Eu queria ter conversado, numa prosa onde mais escutaria do que falaria, com Tia Neiva. Eu queria ter aprendido as pedras do caminho com Carlos Drummond. Eu queria ter caminhado no Jardim Botânico e depois pelas teclas do piano ao lado de Tom Jobim. Eu queria ter subido o morro de Mangueira pelas mãos de Cartola e Cavaquinho. Eu queria ter pegado o trem das onze com Adoniran. Eu queria ter marchado impulsionado por Chico e Caetano. Eu queria ter tomado um café com Fernando Pessoa. ...
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01/02/2015 - Outros homens

Eu sou tempo em que homens voavam sem medo para além das nuvens. Sou do tempo em que o coração não sofria de ferrugem. Sou do tempo em que para conquistar bastava sonhar. Sou do tempo em que as vidas não eram divididas entre o ter e o poder. Sou do tempo em que os amores, mesmo impossíveis, eram possíveis de se viver. Sou do tempo em que os relógios se cruzavam e davam origem a um novo tempo. Sou do tempo em que o horizonte era logo ali. Sou do tempo em que o sol e a lua podiam dividir o mesmo espaço. Sou do tempo em que o homem, quando abdicava de suas asas, virava árvore com raízes bem fincadas. Sou do tempo em que tudo era novidade e um simples beijo fazia o maior alarde no mundo sentimental. Sou do tempo em que as estradas se abriam ao coração. Sou do tempo em que os homens morriam por suas mulheres. Eu sou do tempo em que ao contrário de guerreiros e generais, os homens tinham alma de pássaro.


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30/10/2009 - Outubro rosa

Alguns meses têm cores próprias. Dezembro, incorporando o Natal, combina verde e vermelho. Janeiro veste branco, como as oferendas de Iemanjá e as promessas de paz. Julho é acinzentado por conta do inverno e setembro, colorido por conta da primavera. Já outubro é rosa. Rosa? Neste mês que está prestes a se esvair pelos meandros de novembro o Cristo Redentor e as famosas lojas paulistas da Oscar Freire foram iluminadas de rosa. Aliás, monumentos foram iluminados de rosa em várias partes do mundo. ...
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19/03/2011 - Ouvindo-se

Ouça. Ouça o que seus ouvidos não estão acostumados a ouvir. Ouça o seu corpo. Ouça as suas células se reproduzindo, seus pulmões se enchendo de ar, seus neurônios dando choque. Ouça seus pelos se ouriçando, seus beijos passados, seus pensamentos guardados. Ouça a sinfonia indiscreta e, ao mesmo tempo, secreta que é você. Ouça o silêncio em cada um de seus gritos. Ouça os movimentos ósseos e musculares. Ouça sua alma querendo sair do corpo. Ouça as corredeiras sanguíneas e os convites das linhas do destino que correm em suas mãos. Ouça suas unhas e cabelos crescendo num movimento quase que constante. Ouça sua anatomia transcendendo dos campos da física e da química para os terrenos da poesia. ...
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18/07/2010 - Ovos

A gema era tão vermelha quão o sangue da terra em que lavorava o dono daquelas galinhas. Os galos eram furta-cores, coloridos, índios de canelas alongadas e esporas afiadas. Cristas em riste, eles cocoricavam por aquelas terras descortinando o véu da noite e livrando suas noivas do açoite. Noivas de tantos vestidos e matrimônios. Com suas penugens pretas, marrons, brancas, ruivas e carijós desfilavam pelo terreiro arrancando suspiros dos frangos num amor praticamente impossível. Afinal, o destino dos frangos não era tão romântico assim: ou fariam companhia a uma boa polenta ali no sítio mesmo, ou viajariam até a cidade para conhecer outras bocas, ou ainda, se dessem sorte, substituiriam algum dos galos naquele galinheiro. ...
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04/02/2012 - Oxalá, salvai-nos!

Por todo encanto e pranto que há no ar, meu Senhor do Bonfim, volte seus olhos para a Bahia de Todos os Santos. Saravá Oxalá, não permita o mal reinar na terra de Caymmi, de Jorge Amado, de Mãe Menininha... Oxalá, senhor de todos, salvai-nos. Salvai-nos do terror, do ódio, da desordem, do desamor. Salvai-nos do caos dos homens.

Senhor dos panos brancos, cubra o seu reino com a paz da criação. Nem que para isso precise convocar as armas de Ogum, as tempestades de Iansã, as cobras de Oxumaré. Que Iemanjá leve tudo de ruim pras águas profundas do mar profundo. Meu senhor do Bonfim, tenha misericórdia de mim e de todos os que não querem o fim dessa terra....
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18/10/2013 - Oxossi me chamou

Meu pai Oxossi me chamou e eu estou aqui para o que der e vier, para chorar e sorrir. Eu estou nas árvores, com meu pai. Eu estou nas matas do meu pai. Eu estou nas águas que correm com meu pai. Eu estou sempre ali na companhia de meu pai. Sou arco e sou flecha nas mãos de meu pai. Sou pena, sou poema, sou cantilena, sou o que diz respeito ao meu pai e em nome dele exijo respeito e o que é meu por direito.

Meu pai Oxossi me chamou e eu ouvi, respondi e atendi seu chamado. Eu estou na magia encantada de meu pai. Eu vou nas forças de meu pai. Eu vôo com os pássaros de meu pai. Eu galopo com os cavaleiros de meu pai. Eu sou verde por dentro como meu pai. Sou o passo, sou o laço, sou o traço de meu pai. Estou na luz, estou no raio, estou no campo que é a casa de meu pai. Sou de Oxossi e estou a serviço de meu pai.


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05/03/2009 - Pães de queijo de Rosa e Drummond

Eram pelo menos trinta pães de queijo se acotovelando em uma travessa. Na verdade, mini-pães num amarelo de sol de inverno, quentes de forno, aflorando água nas pedras que se incrustam pela boca. Pães de queijo cheirando a pães de queijo. Um aroma legítimo. O perfume não era de congelados, empacotados, embalados, guardados, conservados e outros "ados". Á primeira vista, não havia nada de artificialismo nesses pequenos.

Depois da crosta rachada, como os leitos de um São Francisco em época de estiagem braba, o anúncio, explícito, do queijo derretido. Queijo minas. E não era qualquer minas, mas Minas de Guimarães Rosa. Imagine o leite vindo das vaquinhas espalhadas pelos grandes sertões e veredas. Imagine aqueles personagens mágicos espremendo o queijo com as próprias mãos. Este é o pão de queijo que se oferece despudoradamente belo e timidamente mineiro bem diante dos meus olhos. ...
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01/08/2013 - Pai João das Matas

Pai João das Matas chega sempre em meio a um perfume de mato. Pai João das Matas caminha descalço, em contato direto com a terra. Pai João das Matas traz consigo o som das matas virgens, com direito a canto de pássaros e águas brotando do chão. Pai João das Matas usa chapéu de palha trançada, já gasto de tanto passar por entre galhos de árvores. Pai João das Matas é encantador de ventos, que obedecem ao seu comando. Pai João das Matas tem voz firme e coração doce como o mel das abelhas de sua mata....
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13/02/2015 - Pai João das Matas apareceu

Com bata e paletó branco, Pai João das Matas apareceu. Como amanhecer nas matas frondosas, calmo e intenso, Pai João das Matas apareceu. Com três colares coloridos de contas miudinhas, Pai João das Matas apareceu. Sobre a bata com três colares intercalando lilás e branco, vermelho e preto, laranja e azul, Pai João das Matas apareceu. Todo alinhado, de um modo impecável, Pai João das Matas apareceu. Pronto para caridade, Pai João das Matas apareceu. De chapéu de palhinha, de bordas desfiadas e fita iluminada, Pai João das Matas apareceu. Com olhares amadeirados, que nos olham por todos os lados, Pai João das Matas apareceu. De cabelos embranquecidos pelo tempo, Pai João das Matas apareceu. Com seu jeito sério e afável, Pai João das Matas apareceu. Irradiando cura, Pai João das Matas apareceu. Numa simplicidade de se admirar, Pai João das Matas apareceu. Como pai, avô, senhor, irmão, mentor, amigo, Pai João das Matas apareceu. Com porte nobre, na mais pura nobreza de coração, Pai João das Matas apareceu. Sem pedir nada em troca, Pai João das Matas apareceu. Como que vindo de tempos distantes, mas tão atuais, Pai João das Matas apareceu. Numa roupagem de preto-velho, Pai João das Matas apareceu. Numa presença forte, Pai João das Matas apareceu. Do alto de sua evolução, Pai João das Matas apareceu. Emanando amor, humildade e tolerância, Pai João das Matas apareceu. Com vontade de prosear, Pai João das Matas apareceu. Pra fazer chorar de emoção e alegria, Pai João das Matas apareceu. Numa figura de respeito e carinho, Pai João das Matas apareceu. Negro sábio, Pai João das Matas apareceu. Com bigode e barba de algodão, Pai João das Matas apareceu. Envolto de muita luz, projetado à frente de um sol simétrico, Pai João das Matas apareceu. Em um retrato de amor, Pai João das Matas apareceu. Como este menino aqui sempre sonhou, Pai João das Matas apareceu.


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