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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 219 de 320.
28/08/2011 -
Pai Joaquim das Cachoeiras
Toca o sino, bate o tambor, Pai Joaquim das Cachoeiras chegou para abrir minhas porteiras. Eê preto velho, filho de Xangô, guarda as águas das cachoeiras que formam o grande rio onde Oxalá se batizou. Veio do raio de Olorum para lavar toda inveja, todo mau-olhado, todo mal que ficou.
Pai Joaquim veio, sob o comando de Iemanjá, para limpar tudo de ruim que fulano me jogou. Cicrano me amaldiçoou, livrai-me Pai Joaquim. Afasta esse encosto de mim. Beltrano me esconjurou! Pai das Cachoeiras, do ramo do povo das águas e das sereias, fui eu quem lhe chamou. ...
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15/06/2012 -
Pai Joaquim das Matas
No verde é que mora Pai Joaquim das Matas. Preto velho do cabelo branco-algodão e dos olhos de esmeralda é Pai Joaquim das Matas. Pai Joaquim das Matas é do signo do mato, tem a alma de luz esverdeada. Pai Joaquim das Matas conhece as folhas, as raízes, as sementes e tudo mais o que brota na mata. Pai Joaquim das Matas nos descarrega com sua natureza, rompendo nossas demandas como rompe suas matas. Pai Joaquim das Matas canta o canto que o vento do mato carrega pelas matas. Pai Joaquim das Matas dança a dança do mato. Pai Joaquim das Matas está na copa das árvores mais altas e nos olhos dos animais que caminham pela floresta....
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06/07/2010 -
País cara de pau
Todos pintam o rosto. Todos falam com gosto. Todos levantam uma bandeira. Todos se esquecem da canseira. Todos viram técnicos. Todos têm palpites proféticos. Todos falam mal da mãe do seu juiz. Todos vivem por um triz. Todos se reúnem com todos. Todos vão do céu ao lodo. Todos têm um feitiço particular. Todos bebem de bar em bar. Todos têm suas crenças. Todos têm suas exigências. Todos se esforçam para cantar o hino nacional. Todos se esquecem do mundo real.
Todos entram no gramado. Todos dizem: isso ta certo, aquilo ta errado. Todos têm um motivo para comemorar. Todos querem apostar. Todos comem pipoca com coca-cola na frente de uma tv japonesa e ainda dizem que são nacionalistas. Todos são anônimos e artistas. Todos têm uma receita infalível. Todos se unem para combater o mesmo pesadelo terrível. Todos têm uma escalação na cabeça. Todos têm no coração o desejo de vença. ...
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22/03/2012 -
Paisagem pitoresca
Casinhas com quintais de terra e abacateiros ao fundo. Abacateiros verdes, grandes como não existem mais. Um romance anda por estradinhas em ziguezague. Um vira-lata latindo pra ninguém. O vento faz dançar o capim dourado ao mesmo tempo em que traz ecos da montanha de pedra. A saudade é quente e úmida. Os desejos são esticados na janela em feitio de cobertas. Um cavaleiro galopa por vielas estreitas e alongadas.
Na beira dos caminhos há flores e pedras. Dizem até mesmo que são as pedras que florescem. Histórias não faltam. Lendas então... A cana sangra cachaça. Até o vento tem sotaque. O lugarejo acolhe e embala. Tudo ali tem tempero incomum. As lembranças grudam nas paredes como lagartixas. Há um tilintar de prece pelo ar. O sol tem cor de caco de telha. Ali, a linha que separa os mundos não é imaginária. ...
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26/04/2015 -
Paixão circense
Pendura seu corpo no meu. Vamos às alturas. Ilumina o meu breu. Vamos ser circenses. Viver a paixão no picadeiro. Saia da minha cartola. Envolva-me em seus truques. Pula como se de mola. Atarraque-se na minha gola de palhaço. Cavalga no meu passo. Abusa das acrobacias. Pula no vazio. Causa-me arrepio. Encha a plateia – meus olhares – de alegrias. Estica a lona da ilusão. Dê por aberta a temporada da imaginação. Rola comigo pela serragem entre estrelas, bananeiras e cambalhotas. Beija-me de pipoca. E no alto do trapézio me provoca.

19/01/2012 -
Paixão de confeiteiro
Hoje eu quero uma ganashe de olhares, com olhos amargos e doces, comestíveis ou decorativos. Hoje eu quero beijos de marzipã em lábios de açúcar de confeiteiro. Hoje eu quero cabelos que escorram como calda de açúcar caramelado. Hoje eu quero um corpo que ferva como leite e que derrame sobre o meu. Hoje que quero sentimentos que se incorporem aos meus numa mistura homogênea em poucos segundos. Hoje eu quero reduzir em 1/3 o volume inicial de saudade que trago em mim. Hoje eu quero coar meus pensamentos, descartando tudo o que possa desandar a receita. ...
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20/01/2011 -
Paixão despedaçada
Depois de muito tempo e de um tempo muito, sangro minha boca de uísque. Uísque caubói como um dia imaginamos ser. Aliás, como um dia fomos. Uísque para lhe chamar, para lhe invocar, para lhe encontrar... Mais do que nunca, é preciso lhe pedir perdão. Perdão por não ter honrado a promessa feita diante de seus olhos verdes de nunca deixar seu império se perder. Seu mundo particular, feito de terra vermelha e fantasia, depois de mais de setenta anos, passa para mãos que não tem seu sobrenome e que não conhecessem sua história. ...
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02/04/2010 -
Paixão dolorosa
Santa, puramente santa nasceu você, sexta-feira das dores. Santa feira, sexta de dor. Nasceu condenada ao silêncio e ao sacrifício. Nasceu jurada ao sofrimento vitalício. Tem o legado da proibição, da inibição, da castração de desejos e outros ensejos. Sexta de Barrabás. Sexta da vitória do Satanás, do martírio de Deus, do choro dos judeus, é assim dolorosamente sexta por quase dois mil anos. Tanto tempo faz e o vento que corre em ti, sexta-feira, ainda corta em dor de luto.
Sexta do grito de Jesus questionando o possível abandono do pai. Sexta que mata e morre na cruz. Sexta da escuridão, do roxo, da falta de luz. Sexta das dores. Sexta dos atores que encenam a paixão. A paixão de um Deus que se fez carne e morreu por nossas mãos. Sexta dos ateus e dos cristãos. Sexta do choro de Nossa Senhora, mãe e virgem dolorosa. Sexta das promessas de redenção, de ressurreição, de glória e aleluia. Sexta na qual um pássaro de fogo canta o fim do mundo na beira da tuia. ...
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05/01/2012 -
Paixão italiana
Nem mesmo as décadas de distância conseguiram apagar as lembranças de sua língua. Mantinha um forte sotaque italiano. Aliás, para ela, certas palavras só existiam em seu idioma natal. Qualquer um ao abrir sua janela da sala enxergava um amontoado de prédios e ruas abarrotadas de carros e pessoas num constante vai e vem. Já ela via uma paisagem completamente diferente, bucólica, com campos verdes e casas de pedra. É como se aquele tempo se encontrasse intacto dentro de sua cabeça. Um primor.
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06/10/2014 -
Paixão mateira
Apaixono-me por inteiro. Dinheiro algum me move dos meus sentimentos. Sou moinho ao vento. Amo e de tanto amor me faço um sonhador entregue ao firmamento. Tenho compromisso com quem me ama. E estou no tempo do viço do coração. Coração em parafuso, em reboliço, encantado pelo apaixonamento que é mais forte que qualquer feitiço. Apaixono-me feito violeiro, de corda em corda, de casa em casa, numa completa melodia. Vivo bobo pelo cheiro de quem amo e me declamo pelo estradeiro sem fim. Paixão em mim dá raiz e ramo, crescendo por todos os cantos e contracantos. Quando menos se espera, como num acalanto, apaixono-me com esse meu jeito mateiro, num juramento faceiro ao amor demais.
